terça-feira, 18 de março de 2008

TERÇA-FEIRA SANTA (SEMANA SANTA)



Na Cruz do Senhor está a nossa salvação, vida e ressurreição. É o que nos diz o Intróito da missa de hoje, que se repetirá na Quinta-Feira Santa; o mesmo nas orações. A celebração dos mistérios da nossa Redenção deve operar em nós uma renovação espiritual, penhor da eternidade.



A Epístola, tirada de Jeremias, anuncia a imolação do divino Cordeiro. Sublinha a inocência e serenidade de Jesus, posta em relevo igualmente na narração da Paixão segundo São Marcos.

Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos:
Foram em seguida para o lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse a seus discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto vou orar.
Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a ter pavor e a angustiar-se.
Disse-lhes: A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai.
Adiantando-se alguns passos, prostrou-se com a face por terra e orava que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.
Aba! (Pai!), suplicava ele. Tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça o que eu quero, senão o que tu queres.
Em seguida, foi ter com seus discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora!
Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca.
Afastou-se outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras.
Voltando, achou-os de novo dormindo, porque seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder.
Voltando pela terceira vez, disse-lhes: Dormi e descansai. Basta! Veio a hora! O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.
Levantai-vos e vamos! Aproxima-se o que me há de entregar.
Ainda falava, quando chegou Judas Iscariotes, um dos Doze, e com ele um bando armado de espadas e cacetes, enviado pelos sumos sacerdotes, escribas e anciãos.
Ora, o traidor tinha-lhes dado o seguinte sinal: Aquele a quem eu beijar é ele. Prendei-o e levai-o com cuidado.
Assim que ele se aproximou de Jesus, disse: Rabi!, e o beijou.
Lançaram-lhe as mãos e o prenderam.
Um dos circunstantes tirou da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e decepou-lhe a orelha.
Mas Jesus tomou a palavra e disse-lhes: Como a um bandido, saístes com espadas e cacetes para prender-me!
Entretanto, todos os dias estava convosco, ensinando no templo, e não me prendestes. Mas isso acontece para que se cumpram as Escrituras.
Então todos o abandonaram e fugiram.
Seguia-o um jovem coberto somente de um pano de linho; e prenderam-no.
Mas, lançando ele de si o pano de linho, escapou-lhes despido.
Conduziram Jesus à casa do sumo sacerdote, onde se reuniram todos os sacerdotes, escribas e anciãos.
Pedro o foi seguindo de longe até dentro do pátio. Sentou-se junto do fogo com os servos e aquecia-se.
Os sumos sacerdotes e todo o conselho buscavam algum testemunho contra Jesus, para o condenar à morte, mas não o achavam.
Muitos diziam falsos testemunhos contra ele, mas seus depoimentos não concordavam.
Levantaram-se, então, alguns e deram esse falso testemunho contra ele:
Ouvimo-lo dizer: Eu destruirei este templo, feito por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, que não será feito por mãos de homens.
Mas nem neste ponto eram coerentes os seus testemunhos.
O sumo sacerdote levantou-se no meio da assembléia e perguntou a Jesus: Não respondes nada? O que é isto que dizem contra ti?
Mas Jesus se calava e nada respondia. O sumo sacerdote tornou a perguntar-lhe: És tu o Cristo, o Filho de Deus bendito?
Jesus respondeu: Eu o sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu.
O sumo sacerdote rasgou então as suas vestes. Para que desejamos ainda testemunhas?!, exclamou ele.
Ouvistes a blasfêmia! Que vos parece? E unanimemente o julgaram merecedor da morte.
Alguns começaram a cuspir nele, a tapar-lhe o rosto, a dar-lhe socos e a dizer-lhe: Adivinha! Os servos igualmente davam-lhe bofetadas.
Estando Pedro embaixo, no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote.
Ela fixou os olhos em Pedro, que se aquecia, e disse: Também tu estavas com Jesus de Nazaré.
Ele negou: Não sei, nem compreendo o que dizes. E saiu para a entrada do pátio; e o galo cantou.
A criada, que o vira, começou a dizer aos circunstantes: Este faz parte do grupo deles.
Mas Pedro negou outra vez. Pouco depois, os que ali estavam diziam de novo a Pedro: Certamente tu és daqueles, pois és galileu.
Então ele começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.
E imediatamente cantou o galo pela segunda vez. Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe havia dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás. E, lembrando-se disso, rompeu em soluços.
Logo pela manhã se reuniram os sumos sacerdotes com os anciãos, os escribas e com todo o conselho. E tendo amarrado Jesus, levaram-no e entregaram-no a Pilatos.
Este lhe perguntou: És tu o rei dos judeus? Ele lhe respondeu: Sim.
Os sumos sacerdotes acusavam-no de muitas coisas.
Pilatos perguntou-lhe outra vez: Nada respondes? Vê de quantos delitos te acusam!
Mas Jesus nada mais respondeu, de modo que Pilatos ficou admirado.
Ora, costumava ele soltar-lhes em cada festa qualquer dos presos que pedissem.
Havia na prisão um, chamado Barrabás, que fora preso com seus cúmplices, o qual na sedição perpetrara um homicídio.
O povo que tinha subido começou a pedir-lhe aquilo que sempre lhes costumava conceder.
Pilatos respondeu-lhes: Quereis que vos solte o rei dos judeus?
(Porque sabia que os sumos sacerdotes o haviam entregue por inveja.)
Mas os pontífices instigaram o povo para que pedissem de preferência que lhes soltasse Barrabás.
Pilatos falou-lhes outra vez: E que quereis que eu faça daquele a quem chamais o rei dos judeus?
Eles tornaram a gritar: Crucifica-o!
Pilatos replicou: Mas que mal fez ele? Eles clamavam mais ainda: Crucifica-o!
Querendo Pilatos satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás e entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse crucificado.
Os soldados conduziram-no ao interior do pátio, isto é, ao pretório, onde convocaram toda a coorte.
Vestiram Jesus de púrpura, teceram uma coroa de espinhos e a colocaram na sua cabeça.
E começaram a saudá-lo: Salve, rei dos judeus!
Davam-lhe na cabeça com uma vara, cuspiam nele e punham-se de joelhos como para homenageá-lo.
Depois de terem escarnecido dele, tiraram-lhe a púrpura, deram-lhe de novo as vestes e conduziram-no fora para o crucificar.
Passava por ali certo homem de Cirene, chamado Simão, que vinha do campo, pai de Alexandre e de Rufo, e obrigaram-no a que lhe levasse a cruz.
Conduziram Jesus ao lugar chamado Gólgota, que quer dizer lugar do crânio.
Deram-lhe de beber vinho misturado com mirra, mas ele não o aceitou.
Depois de o terem crucificado, repartiram as suas vestes, tirando a sorte sobre elas, para ver o que tocaria a cada um.
Era a hora terceira quando o crucificaram.
A inscrição que motivava a sua condenação dizia: O rei dos judeus.
Crucificaram com ele dois bandidos: um à sua direita e outro à esquerda.
[Cumpriu-se assim a passagem da Escritura que diz: Ele foi contado entre os malfeitores (Is 53,12).]
Os que iam passando injuriavam-no e abanavam a cabeça, dizendo: Olá! Tu que destróis o templo e o reedificas em três dias,
salva-te a ti mesmo! Desce da cruz!
Desta maneira, escarneciam dele também os sumos sacerdotes e os escribas, dizendo uns para os outros: Salvou a outros e a si mesmo não pode salvar!
Que o Cristo, rei de Israel, desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos! Também os que haviam sido crucificados com ele o insultavam.
Desde a hora sexta até a hora nona, houve trevas por toda a terra.
E à hora nona Jesus bradou em alta voz: Elói, Elói, lammá sabactáni?, que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?
Ouvindo isto, alguns dos circunstantes diziam: Ele chama por Elias!
Um deles correu e ensopou uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de uma vara, deu-lho para beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo.
Jesus deu um grande brado e expirou.
O véu do templo rasgou-se então de alto a baixo em duas partes.
O centurião que estava diante de Jesus, ao ver que ele tinha expirado assim, disse: Este homem era realmente o Filho de Deus.
Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé,
que o tinham seguido e o haviam assistido, quando ele estava na Galiléia; e muitas outras que haviam subido juntamente com ele a Jerusalém.
Quando já era tarde - era a Preparação, isto é‚ é a véspera do sábado -,
veio José de Arimatéia, ilustre membro do conselho, que também esperava o Reino de Deus; ele foi resoluto à presença de Pilatos e pediu o corpo de Jesus.
Pilatos admirou-se de que ele tivesse morrido tão depressa. E, chamando o centurião, perguntou se já havia muito tempo que Jesus tinha morrido.
Obtida a resposta afirmativa do centurião, mandou dar-lhe o corpo.
Depois de ter comprado um pano de linho, José tirou-o da cruz, envolveu-o no pano e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, rolando uma pedra para fechar a entrada.





Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

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