quarta-feira, 30 de abril de 2008

Catecismo Online: "Desceu aos infernos e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos." (Parte I) (Postado em 19/12/2007)





Se muito importa conhecer a glóriasa sepultura de Jesus Cristo Nosso Senhor (Is 11,10), conforme acabamos de tratar, de maior alcance para o povo cristão é saber os nobres triunfos que ele alcançou, com a derrota do demônio, e com a tomada dos infernos.



Disso vamos ocupar-nos agora, juntamente com a Ressurreição. Poderíamos, sem dúvida, falar desta parte separadamente; mas, a exemplo dos santos padres, julgamos melhor juntá-la com a descida aos infernos.




A primeira cláusula deste artigo propõe-nos a crer que, após a morte de Cristo, Sua alma desceu aos infernos, e lá todo o tempo que o corpo esteve no sepulcro.




Com estas palavras, confessamos igualmente que a mesma pessoa de Cristo esteve nos infernos, ao mesmo tempo que jazia no túmulo. Este fato não deve causar estranhamento a ninguém. Conforme já dissemos várias vezes, a Divindade nunca se apartou da alma nem do Corpo, não obstante a separação que houve entre a alma e o corpo.




Para maior evidência deste artigo, devemos entender o significado da palavra "infernos", neste artigo. Devemos compreender também que esta palavra não designa o sepulcro como alguns asseveravam, com uma impiedade igual a própria ignorância.




No artigo anterior, vimos com efeito que Cristo Nosso Senhor fora sepultado. Ora, não havia motivo para que os Santos Apóstolos, na doutrinação da fé, repetissem a mesma verdade com outras palavras, por sinal que mais obscuras.




A expressão "infernos" designa os ocultos receptáculos onde são detidas as almas que não conseguiram a bem-aventurança do Céu.




Neste sentido, ocorrer em muitos lugares da Sagrada Escritura. Lê-se, por exemplo, no Apóstolo: "Ao nome de Jesus, deve-se dobrar reverente todos os joelhos, seja no Céu, na terra ou nos infernos" (Fil 2,10). E nos Atos dos Apóstolos atesta São Pedro que "Cristo Nosso Senhor ressuscitou, depois de vencer as dores do inferno" (Ato 2,24).




Mas esses receptáculos não são todos da mesma categoria. Um deles é a horrenda e tenebrosa prisão, em que as almas réprobas são atormentadas num fogo eterno e inextinguível (Mc 9,44ss), juntamente com os espíritos imundos. Chama-se também "geena" (Mt 5,22; 23,15-33; 25,41), e "abismo" (Apoc 9,11; 20,3). É o inferno propriamente dito.




Há também um fogo expiatório, no qual por certo tempo sofrem e se purificam as almas dos justos, até que lhes seja franqueado o acesso da Pátria eterna, onde nada de impuro pode entrar (Apoc 21,27).




Consoante as declarações dos Santos Concílios, essa verdade tem por si os testemunhos da Escritura e da Tradição Apostólica. Essa verdade deve ser defendida durante todo católico até chegarmos ao tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina (2Tim 4,3).




Existe, afinal, um terceiro receptáculo, em que eram recolhidas as almas justas, antes da vinda de Cristo Nosso Senhor. Ali desfrutavam um suave remanso, sem nenhuma sensação de dor. Alentavam-se com a ditosa esperança do resgate. Estas almas eleitas aguardavam o Salvador no seio de Abraão (Lc 16,22-23); foi a elas que Cristo Nosso Senhor libertou, na descida aos infernos.




(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)

terça-feira, 29 de abril de 2008

Santa Catarina de Siena, Virgem

Santa Catarina de Siena nasceu em Siena no dia da Anunciação e começou a ter experiências místicas aos 6 anos vendo anjos da guarda, claramente com as pessoas as quais eles protegiam. Tornou-se uma Dominicana quando tinha 16 anos e ainda continuou a ter visões de Cristo, Maria e dos santos. Santa Catarina foi uma das mais brilhantes mentes teológicas do seu tempo, não tendo entretanto qualquer educação formal. Trabalhou com êxito como moderadora entre a Santa Sé e Florença e persuadiu o Papa a voltar para Roma de Avignon. Finalmente conseguiu a conciliação no reinado do Papa Urbano VI. Mas tarde Santa Catarina se estabeleceu em Roma, onde lutou infatigavelmente com orações, exortações e cartas para ganhar novos partidários para o Papa legítimo. Em 1377 quando ela morreu, já havia conseguido curar as feridas e acabar com o Grande Schisma Ocidental.
Santa Catarina de Siena foi ao Convento onde estava a sua sobrinha de nome Eugenia, e foi visitar o corpo incorrupto de Santa Agnes de Montepulciano, para venera-la. Quando ela se inclinou para beijar o pés de Santa Agnes, todos ficaram maravilhados ao verem que Agnes levantava o seu pé, suavemente, ao encontro dos lábios de Catarina.
Ela teve visões de Jesus, Maria, São João, São Paulo e São Domingos, o fundador da Ordem dos Dominicanos. Durante uma dessas visões a Virgem Maria a apresentou a Jesus que a desposou, colocando um anel de ouro com quatro pérolas em um círculo e um grande diamante no centro, dizendo a ela: "receba isto como um penhor e testemunho que você é minha e será minha para sempre". Experimentou maravilhosas experiências misticas. Com a idade de 26 anos, ela começou a sentir as dores de Cristo, em seu corpo. Dois anos mais tarde, em 1375, durante uma visita a Pisa, ela recebeu a Comunhão na pequena igreja de Santa Christina. Quando ela meditava e agradecia orando ao crucifixo, raios de luz furaram suas mãos, pés e o lado e todos puderam ver os estigmas de Cristo nela. Por causa de tanta dor ela não falava nem comia. Assim ficou por oito anos sem comer líquidos ou qualquer outra coisa que não fosse a Sagrada Comunhão (Inédia). Ela orava para que as marcas não fosse muito visíveis, e elas ficaram pouco visíveis, mas após sua morte os estigmas ficaram bem visíveis em seu corpo incorrupto, como uma transparência na pele, no local das chagas de Cristo.
As vezes quando orava ela levitava. Uma vez quando recebia a Sagrada Comunhão o padre sentiu a hóstia tornar-se viva, movendo-se agitada e voando de seus dedos para a boca de Catarina.
Na "Vida de Santa Catarina" a Madre Francisca Raphaela relata que a santa era imune ao fogo. Ela conta que certa vez Catarina caiu em um fogo na cozinha e apesar do fogo ser grande quando foi retirada dêle por outros membros presentes, nem ela, nem suas roupas estavam sequer chamuscadas.
Das cartas de Santa Catarina de Siena há uma trilogia chamada "O Diálogo" que é considerado o mais brilhante escrito da história da Igreja Católica. Morreu jovem, aos 33 em anos de idade, em 29 de abril de 1380, mas seu corpo foi encontrado incorrupto e conservado em 1430.
Foi canonizada em 1461 e declarada Doutora da Igreja em 1970. É co-padroeira do Continente Europeu junto com Santa Edith Stein e Santa Brígida da Suécia, e padroeira da Itália junto com São Francisco de Assis. Ela é padroeira dos Consultores. A festa em comemoração a santa em Criciuma, Santa Catarina é uma das mais lindas cidades do Brasil.
Sua festa é celebrada no dia 29 de abril

segunda-feira, 28 de abril de 2008

2ª, 3ª e 4ª Feira das Rogações




Em conseqüência das calamidades públicas que no século V caíram sobre a diocese de Viena, no Delfinado, São Marmeto organizou uma procissão solene de penitência nos três dias que precedem imediatamente a Ascensão. Mais tarde, em 511, o concílio de Orleans estendeu este costume a toda França e Leão III em 816 adotou-o em Roma, donde passou a toda Igreja.




A ladainha dos santos, os salmos e as orações são tudo uma oração de súplica, recebendo por este motivo o nome de rogações. Tem por fim afastar os flagelos da justiça divina e atrair as bênçãos e a misericórdia de Deus.




As ladainhas são um modelo admirável de oração; pequenas jaculatórias dialogadas, brevíssima, e a ressumar sentido e piedade.




Todas a missa de hoje mostra a eficácia da oração do justo, quando é humilde e perseverante. Elias fechou e abriu os céus, orando, e o Senhor diz-nos que Deus escuta e despacha a oração dos que pedem em seu nome e com perseverança. Quando nos sentimos atribulados, confiemos em Deus que Ele nos há de ouvir como ouviu o filho.

Evangelho do dia:

Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo São Lucas: Naquele tempo:
Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer;
e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar os pães;
eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães necessitar.
E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.
Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá.
Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente?
Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião?
Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem.

Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

domingo, 27 de abril de 2008

V Domingo depois da Páscoa: "Deixo o mundo e vou para o Pai" (Ev.)



A liturgia continua a cantar o triunfo de Cristo e a liberdade do povo cristão que ele resgatou.
Nesta semana das rogações convida-nos particularmente a unir com a sua a nossa prece, como nos diz na missa das ladainhas e até a oração e o evangelho de hoje. Mas é preciso pedir em nome do Senhor e pedir coisas realmente de valor e interesse para nós, a salvação em primeiro lugar, evidentemente, e então sem falta nos concederá o que pedimos; para que seja perfeita a nossa alegria e para que crendo que ele saiu de Deus, mereçamos entrar com ele na glória do Pai.
Cautela, pois, não nos iludamos. A epístola de São Tiago frisa este ponto com insistência. Não basta orar, é preciso orar bem.


Evangelho de Domingo:


Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo São João: Naquele tempo disse Jesus a seus discípulos:
Naquele dia não me perguntareis mais coisa alguma. Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará.
Até agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita.
Disse-vos essas coisas em termos figurados e obscuros. Vem a hora em que já não vos falarei por meio de comparações e parábolas, mas vos falarei abertamente a respeito do Pai.
Naquele dia pedireis em meu nome, e já não digo que rogarei ao Pai por vós.
Pois o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus.
Saí do Pai e vim ao mundo. Agora deixo o mundo e volto para junto do Pai.
Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas claramente e a tua linguagem já não é figurada e obscura.
Agora sabemos que conheces todas as coisas e que não necessitas que alguém te pergunte. Por isso, cremos que saíste de Deus.


Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

sábado, 26 de abril de 2008

Contra-Reforma: As heresias nos primeiros séculos (Postado em 08/03/2008)

Por: Gercione Lima

Os Judaizantes (Séc. I) A heresia Judaizante pode ser resumida pelas seguintes palavras dos Atos dos Apóstolos 15,1: Alguns homens, descendo da Judéia, puseram se a ensinar aos irmãos o seguinte: Se não vos circuncidais segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos. Muitos dos primeiros Cristãos eram Judeus, e esses trouxeram para a Fé cristã muitas de suas práticas e observâncias judaicas. Eles reconheciam em Jesus Cristo o Messias anunciado pelos profetas e o cumprimento do Antigo Testamento, mas uma vez que a circuncisão era obrigatória no Antigo Testamento para a participação na Aliança com Deus, muitos pensavam que ela era também necessária para a participação na Nova Aliança que Cristo veio inaugurar. Portanto eles acreditavam que era necessário ser circuncidado e guardar os preceitos mosaicos para se tornar um verdadeiro cristão. Em outras palavras, uma pessoa deveria se tornar judeu para poder se tornar cristão. · Uma forma "light" desta heresia é a dos Adventistas de Sétimo Dia e outras seitas sabatistas.



Gnosticismo (Sécs. I e II) "A matéria é má!" Esse é o lema dos Gnósticos. Essa foi uma idéia que eles "tomaram emprestado" de alguns filósofos gregos e isso vai contra o ensinamento Católico, não apenas porque contradiz Gênesis 1,31: "Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom", bem como outras partes da Sagrada Escritura, mas porque nega a própria Encarnação. Se a matéria é má, então Jesus não poderia ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem, pois em Cristo não existe nada que seja mau. Assim muitos gnósticos negavam a Encarnação alegando que Cristo apenas "parecia" como homem, mas essa sua humanidade era apenas ilusória. Alguns Gnósticos, reconhecendo que o Antigo Testamento ensina que Deus criou a matéria, alegavam que o Deus dos Judeus era uma divindade maligna bem diferente do Deus de Jesus Cristo, do Novo Testamento. Eles também propunham a crença em muitos seres divinos, conhecidos como "aeons" que servem de mediadores entre o homem e um inatingível Deus. O mais baixo de todos esses "aeons" que estava em contato direto com os homens teria sido Jesus Cristo. Esta heresia permanece de maneira quase igual na chamada "Nova Era". Em outras formas, aliás, ela não deixa de ser a heresia de base de muitas outras, como o protestantismo (com sua negação dos Sacramentos e da Maternidade Divina da Santíssima Virgem, decorrentes de uma visão gnóstica segundo a qual a religião verdadeira é puramente espiritual: Igreja invisível, sem meios visíveis de transmissão de graça etc.).



Montanismo (final do Séc. II) Montanus iniciou inocentemente sua carreira pregando um retorno à penitência e ao fervor. Todavia ele alegava que seus ensinamentos estavam acima dos ensinamentos da Igreja porque ele era diretamente inspirado pelo Espírito Santo. Logo, logo ele começou a ensinar sobre uma eminente volta de Cristo em sua cidade natal na Frígia. Seu movimento enfatizava sobretudo a continuidade dos dons extraordinários como falar em línguas e profecias. · Montano afirmava que a Igreja não tinha capacidade de perdoar pecados mortais. Esta heresia, de uma certa forma, está presente em muitas seitas atuais, cuja rigidez de costumes traz esta idéia no fundo. Um exemplo seria a "Assembléia de Deus", ou até a seita suicida africana.






Obs: Depois de reações contrárias a publicação deste texto do site Cleófas, o texto foi analisado e não foi verificado nenhum erro doutrinal. O fato de ter saído de um site em que contenha informações que não estejam em total acordo com o magistério não lhe faz desmerecer, por isso, o texto será publicado e cabe ao bom senso do leitor discernir o que é certo e errado conforme a luz do magistério eclesiástico. Grato!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Teologia Ascética e Mística: Dons preternaturais conferidos a Adão (Postado em 07/12/2007)




O dom da integridade aperfeiçoa a natureza do homem, sem a elevar a ordem divina: é seguramente um dom gratuito, preternatural, que transcende a suas existências e forças; não é porém, o sobrenatural por essência. Compreende três grandes privilégios que, sem mudarem a natureza humana substancialmente, lhe conferem uma perfeição, à qual ela não tinha o mínimo direito: a ciência infusa, o domínio das paixões ou a isenção da concupiscência, a imortalidade do corpo.







A ciência infusa. Por natureza, não temos o privilégio e o direito a uma ciência que é um privilégio dos anjos; só progressivamente e com dificuldade é que, segundo as leis psicológicas, chegamos à conquista da ciência. Ora, para facilitar ao primeiro homem o seu múnus de cabeça e de educador do gênero humano, outorgou-lhe Deus gratuitamente o conhecimento infuso de todas as verdades, que lhe importava conhecer, e uma certa facilidade para adquirir a ciência experimental: assim se aproximava dos anjos.







O domínio das paixões. Ou a isenção dessa concupiscência tirânica que torna a virtude tão dificultosa. Dissemos que, em virtude de sua própria constituição, há no homem uma luta formidável entre o desejo sincero do bem e o apetite desordenado dos prazeres e dos bens sensíveis, além de uma tendência acentuada para o orgulho: em suma, é o que chamamos a tríplice concupiscência. Para remediar este efeito natural, conferiu Deus aos nossos primeiros pais um certo domínio das paixões, que, sem os tornar impecáveis, lhes facilitava a virtude. Não havia em Adão essa tirania da concupiscência que o inclinava violentamente para o mal, mas tão-somente uma certa tendência para o prazer, subordinada a razão. Como sua vontade estava sujeita a Deus, às faculdades inferiores estavam sujeitas a razão, e o corpo à alma: era a ordem, a retidão perfeita.







A imortalidade do corpo. Por natureza, está o homem sujeito à doença e à morte; por essencial providência, foi preservado desta dupla fraqueza, para assim mais livremente poder a alma aplicar-se ao cumprimento dos seus deveres superiores.







Mas estes privilégios eram destinados a tornar no homem mais apto para receber e utilizar um dom muito mais precioso, inteira e absolutamente sobrenatural, o da graça santificante.



Por natureza, o homem é servo, propriedade de Deus. Por inexprimível bondade, de que jamais poderemos dar graças excessivas, quis Deus fazê-lo entrar na sua família, adota-lo por filho, constituí-lo como seu herdeiro presuntivo, reservando-lhe um lugar no seu reino: e, para que esta adoção não fosse uma simples formalidade, comunicou-lhe uma participação da sua vida divina, uma qualidade criada, é certo, mas real, que lhe permitiria gozar na terra das luzes da fé, tão superiores às da razão, e possuir Deus no Céu pela visão beatífica e amor proporcionado à claridade desta visão.



A esta graça habitual, que se aperfeiçoava e divinizava, por assim dizer, a própria substância da alma, acrescia virtudes infusas e dons do Espírito Santo, que divinizavam as suas faculdades, e uma graça atual que, pondo em movimento todo este organismo sobrenatural, lhe permitia fazer atos sobrenaturais, deiformes, e meritórios de vida eterna.



Esta graça é substancialmente a mesma a que nos é outorgada pela justificação; e assim, não a descrevemos pormenorizadamente, pois temos intenção de o fazer mais tarde, ao falarmos do homem regenerado.



Todos estes privilégios, exceto a ciência infusa, tinham sido dados a Adão, não como bem pessoal, senão como patrimônio de família, que devia ser transmitido a toda a sua descendência, contanto que ele permanecesse fiel a Deus.



(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961 - 6ª edição)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Catecismo Online: "Morto e Sepultado" (Postado em 14/11/2007)





A fé nos ensina que Nosso Senhor Jesus Cristo foi crucificado e morreu realmente, e foi sepultado. Não é sem motivo que aos fiéis se propõe esta verdade, como objeto de fé explícita; pois não faltaram homens que negassem a morte de Cristo na Cruz.



A este erro doutrinário julgaram os Apóstolos, como toda a razão, que se devia opor a heresia de afirmar que Cristo não morreu na Cruz. E não é possível duvidar da veracidade deste artigo, porquanto todos os evangelistas concordam em afirmar que "Jesus entregou o espírito" (Mt 25,70; Mc 15,37; Lc 23,46; Jo 19,30; IPed 3,18).




Ademais, homem que era perfeito e verdadeiro. Cristo podia também morrer, no sentido próprio da palavra. Ora, o homem morre, quando a alma se aparta do corpo. Portanto, quando dizemos que Jesus Cristo morreu, queremos simplesmente declarar que sua alma se separou do corpo.




Mas não admitindo que o corpo se tenha separado da divindade. Muito pelo contrário. Com fé inabalável confessamos que, separada a alma do corpo, a divindade permaneceu sempre unida, não só ao corpo no sepulcro, como também à alma nos infernos.




Convinha que o filho de Deus morresse, a fim de aniquilar aquele que tinha o poder da morte, isto é, o demônio; e libertar os que, pelo temor da morte, passavam toda a vida na escravidão (Heb 2,14).




O que houve de extraordinário em Cristo Nosso Senhor é ter morrido quando ele mesmo decretou morrer; é ter sofrido a morte por um ato de sua vontade, e não por violência estranha. Foi ele mesmo que decretou não só a própria morte, mas até o tempo e o lugar onde havia de morrer.




Assim pois profetizara Isaías: "Foi imolado, porque ele próprio o quis". Antes da paixão, o Senhor mesmo disse de si próprio: "Eu dou minha vida, para que a tome de novo. Ninguém a tira de mim, Mas eu que a dou de mim mesmo. Tenho o poder de dá-la e tenho o poder de tomá-la de novo" (Jo 10,17-18).




Quando Herodes espreitava a ocasião de lhe dar a morte, Cristo mesmo se declarou a respeito do tempo e lugar: "Ide dizer a essa raposa: que lanço fora os demônios, e faço curas hoje e amanhã, e no dia seguinte, devo ainda caminhar, porque não convém que um profeta pereça fora de Jerusalém" (Lc 13,32-33).




Nada fez, portanto, contra sua vontade, ou por imposição alheia. Pelo contrário, foi voluntariamente que se entregou a si mesmo. Indo ao encontro de seus inimigos, disse-lhes: "Sou Eu" (Jo 18,15). E de livre vontade aturou todos os iníquos e cruéis tormentos, que lhe foram infligidos.




Esta é a circunstância que mais deve empolgar o coração, quando nos pomos a meditar todas as dores e padecimentos. Se alguém tivera sofrido por nós todas as dores, não espontaneamente, mas só por não poder evitá-las, é certo que nessa atitude não veríamos uma mercê de grande valor. Mas, quando alguém sofre a morte por nossa causa, quando o faz de livre vontade, ainda que seja possível esquivar-se, então é que nos dá uma prova de extrema bondade. Por mais conhecido que fosse, ninguém teria meios para lho agradecer, e muito menos meio de lho retribuir condignamente. Por tal critério podemos avaliar o soberano e extremado amor de Jesus Cristo, os direitos divinos e infinitos que adquiriu sobre o nosso coração.




(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - Ed. Vozes - 1962)




segunda-feira, 21 de abril de 2008

Liturgia: Arte Religiosa nas Catacumbas (Postado em 20/08/2007)

As numerosas inscrições, pinturas e esculturas que se encontraram nas catacumbas, apresentam o maior interesse para a Apologética e a Teologia Dogmática. Traduzem, com efeito, ainda que de modo obscuro e enigmático, a fé da primitiva Igreja. Obscuro e enigmático, sim, porque reinam em toda a parte, nas produções dos primeiros séculos, a alegoria e o simbolismo. Exigia-o a disciplina do Arcano¹ que a Igreja tinha sido estabelecido como lei, para arredar os perigos que a salteavam, de contínuo, no mundo pagão. Esta atmosfera misteriosa é manifesta em qualquer monumento primitivo da religião católica. Nada se vê, em parte alguma, capaz de revelar aos olhares dos profanos os segredos das coisas santas.

As inscrições apresentam geralmente a maior singeleza, em contrastes com as legendas pagãs. Muitas vezes, só o nome do falecido ou a idade, a data da morte. E, mais raro, o nome, breve invocação: "Vivas in Deo, in Christo, in Pace, cum sanctis; Viva (descansa) em Deus, em Cristo, em paz, com todos os santos". Alguns dizeres vê-se que traduzem a crença dos primeiros cristãos num só deus, na divindade de Nosso Senhor e do Espírito Santo; Outros lembram os sacramentos do batismo e do Crisma. "Fidem accepit, recebeu a fé"; e "Signatus numere Cristi, está marcado com o dom de Cristo".

As pinturas nas paredes e abobadas das criptas, como também dos cubículos, estão miúdo cobertas de estuque e adornadas de numerosos painéis. Nosso Senhor, freqüentemente, é representado na figura alegórica do Bom pastor, simbolizando a dedicação e a caridade, e na do cordeiro que recorda a sua imolação na Cruz. Encontra-se também pinturas de assuntos bíblicos: Noé na Arca, o sacrifício de Abraão, considerado tipo de Holocausto sangrento no Calvário e do holocausto incruento da missa. Mas as pinturas mais estimadas, são as que tratam dos sacramentos; por exemplo a eucaristia aparece figurada por um peixe², que leva no dorso pão e vinho; o sacramento da penitência pela imposição das mãos etc.

As esculturas, avultam igualmente, nos cemitérios dos primeiros cristãos. Muitas vezes nos sarcófagos estão cobertos, na face anterior e nos dois lados, com baixo-relevo. O assunto religioso mais aproveitado ali são pessoas na atitude da prece. Noé na arca, Daniel entre os leões, Jesus mudando a água em vinho, o Bom Pastor... Muitas vezes, aparecem emblemas esculpidos nos túmulos: ora uma pomba, simbolizando a inocência, ou o martírio e a ressurreição; ora uma âncora significando esperança; ora uma palma, lembrando o triunfo.

A legislação romana declarava sagrados e invioláveis os túmulos, quem quer que fosse o dono deles, ou a religião a que pertencesse. Daí resultaram duas coisas: 1º) Não havia para os cristãos, em tempos de perseguição, refugio melhor que os cemitérios; 2º) Os ricos convertidos, consideravam obra de caridade a oferta dos próprios domínios funerários a seus irmãos de crença.
No princípio, nos cemitérios onde se acolhem os cristãos, fugindo dos seus algozes, são propriedades particulares. Porém aos poucos, tornando-se muito numerosas as sepulturas, para ficarem na posse de uma família, esta dava a Igreja os tais campos funerários. Desta forma, no século III, parte dos cemitérios pertencia à Igreja e eram por ela administrados. Infelizmente, o direito da Igreja foi desrespeitado pelo edito de perseguição de valeriano. Seqüestrou os cemitérios e proibiu, sob pena de morte, o ingresso neles. Depois de muitas alternativas de sossego e de borrascas, a Igreja recuperou os bens que Diocleciano lhe tinha confiscado e pode assim gozar da liberdade, com o Imperador Constantino Magno. Um edito de 312 autorizou os cristãos a celebrar as assembléias e se quisessem e a construir templos. Outro edito, em 313, promulgado em Milão, equiparava no aspeto legal, o cristianismo a seus cultos. A partir deste dia, é que os lugares de culto passaram a ser as basílicas. Assunto este que abordaremos na próxima semana falaremos sobre a origem das basílicas.


(1) Disciplina do Arcano ou Sigilo - A Igreja dos primórdios trazia viva, na mente, a exortação do mestre: "Não deitei as coisas santas aos cães"(Mat 7, 6). Impôs a regra a ocultar os dogmas da fé e as cerimônias do culto, aos que não houvessem aderido a ela pelo batismo. Eram simples cautela contra pagãos idólatras, que teriam mofado de uma religião que não compreendiam, e contra os catecúmenos, de fé ainda fraca, que talvez achassem nisso um obstáculo. Era afim de também não provocar perseguições. A disciplina do Arcano abrangia principalmente os mistérios, nomeadamente o da Santíssima Trindade, assim como os ritos e as doutrinas dos sacramentos. Vigorou esta disciplina até o século VI; portanto, ainda muito depois do triunfo do cristianismo.
(2) O peixe é o símbolo secreto do cristo, porque a palavra peixe (em grego), é formada pelas iniciais dos vocábulos: Iesou Christos Theou Uios Soter (Jesus cristo, filho do Deus, Salvador).


domingo, 20 de abril de 2008

IV Domingo depois da Páscoa: "Se eu não for, o Espírito consolador não virá a vós; mas eu vo-lo enviarei."(Ev.)



A liturgia de hoje louva a justiça divina, que se manifestou no triunfo do Senhor, e pela descida do Espírito Santo, que, de volta ao céu, o Senhor prometera. Deus que dera testemunho de seu filho, ressuscitando-o dos mortos, condena o mundo que o crucificou. Este testemunho brilhante da justiça divina deve-nos consolar as almas das amarguras e das dificuldades da vida presente.
Jesus abriu-nos o caminho; Ele é o caminho, a verdade e a vida. Enquanto vivermos nesta terra temos de beber sem dúvida o amargor do exílio, de amargar com a perseguição e a hostilidade dos elementos adversos, mas quando desabrochar no dia pleno e luminoso, que antevemos, a aurora que nos leva, se não olharmos para trás, para esses pedaços de noite e dia por onde passamos, havemos de sentir com certeza como foi breve o caminho e suave o sofrimento que nos conduziram a tão grande vitória.
São Tiago exorta-nos a sofrer com paciência, com paciência cristã evidentemente, as arestas e as fadigas da jornada, porque a paciência, diz o apóstolo, dá perfeição a obra, à obra da nossa santificação, e assemelha-nos a Deus "em quem não há vicissitude nem mudança".


Evangelho de Domingo:


Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo São João: Naquele tempo: Disse Jesus a seus discípulos:
Agora vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me pergunta: Para onde vais?
Mas porque vos falei assim, a tristeza encheu o vosso coração.
Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei.
E, quando ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo.
Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em mim.
Ele o convencerá a respeito da justiça, porque eu me vou para junto do meu Pai e vós já não me vereis;
ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado.
Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora.
Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão.
Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará.


Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

sábado, 19 de abril de 2008

Contra-Reforma: O que é heresia? (Postado em 01/03/2008)


Antes de darmos uma olhada nas grandes heresias da história da Igreja, cumpre nos dar algumas palavras sobre a natureza da heresia. Isso é muito importante já que o termo em si carrega um forte peso emocional e frequentemente é mal utilizado. Heresia não significa o mesmo que incredulidade, cisma, apostasia ou qualquer outro pecado contra a fé. O Catecismo da Igreja Católica define a heresia do seguinte modo: Incredulidade é negligenciar uma verdade revelada ou a voluntária recusa em dar assentimento de fé a uma verdade revelada. Heresia é a negação após o batismo de algumas verdades que devem ser acreditadas com fé divina e Católica, ou igualmente uma obstinada dúvida com relação às mesmas; apostasia é o total repúdio da fé cristã; cisma é o ato de recusar se a submeter se ao Romano Pontífice ou à comunhão com os membros da Igreja sujeitos a ele (CCC 2089). Para ser culpado de heresia, uma pessoa deve estar obstinada (incorrigível) no erro. Uma pessoa que está aberta à correção ou que simplesmente não tem consciência de que o que ela está dizendo é contrário ao ensinamento da Igreja, não pode ser considerada como herética. A dúvida ou negação envolvida na heresia deve ser pós batismal. Para ser acusado de heresia, uma pessoa deve ser antes de tudo um batizado. Isso significa que aqueles movimentos que surgiram da divisão do Cristianismo ou que foram influenciados por ele, mas que não administram o batismo ou que não batizam validamente, não podem ser considerados heresias mas apenas religiões separadas (exemplos incluem Muçulmanos que não possuem batismos e Testemunhas de Jeová que não batizam validamente). E, finalmente, a dúvida ou negação envolvidos na heresia devem estar relacionados a uma matéria que deve ser crida com fé Católica e divina em outras palavras, alguma coisa que tenha sido definida solenemente pela Igreja como verdade divinamente revelada (por exemplo, a Santíssima Trindade, a Encarnação, a Presença Real de Cristo na Eucaristia, o Sacrifício da Missa, a Infalibilidade Papal, a Imaculada Conceição e Assunção de Nossa Senhora).É especialmente importante saber distinguir heresia de cisma e apostasia. No cisma, uma pessoa ou grupo se separa da Igreja Católica sem repudiar nenhuma doutrina definida. Já na apostasia, uma pessoa repudia totalmente a fé cristã e não mais se considera cristã. É interessante notar como, de uma forma ou outra, a imensa maioria destas heresias permanece nos dias atuais.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Teologia Ascética e Mística: Ilusões dos principiantes acerca das consolações (Postado em 28/09/2007)


Geralmente Deus, na sua bondade, concede consolações sensíveis aos principiantes, para os atrair ao seu serviço; depois, priva-os dela por um determinado tempo, a fim de os provar e os confirmar nas virtudes. Ora, há alguns que se julgam a chegados a certo grau de santidade, quando possuem muitas consolações; mas, se estas vem a desaparecer, dando lugar as securas e aridez espiritual, este logo se imaginam perdidos. Importa, pois, a fim de prevenir juntamente a presunção e o desalento, explicar-lhes a verdadeira doutrina sobre as consolações e as securas.







As consolações sensíveis são emoções suaves que afetam a sensibilidade e fazem experimentar certa alegria sentida. Então, dilata-se o coração, batendo com mais viveza, circula com mais rapidez o sangue, inflama-se o rosto, enternece-se a voz e exterioriza-se às vezes em lágrimas estas alegrias. Distinguem-se das consolações espirituais, concedida geralmente às almas em progresso, consolações de ordem superior que atuam sobre a inteligência iluminando-a, e sobre a vontade, atraindo-a à oração e a virtude. Muitas vezes, é claro, há uma certa combinação de ambas; o que vamos dizer pode-se aplicar tanto a umas como a outras.




Das três fontes pode brotar estas consolações:








  1. De Deus, que procede para conosco como a mãe para seus filhos, atraindo-nos para si por meio das suavidades que nos faz encontrar em seu serviço, a fim de nos desprender mais facilmente dos falsos prazeres do mundo.




  2. Do demônio, que, atuando sobre o sistema nervoso, a imaginação e a sensibilidade, pode produzir certas emoções sensíveis, de que em seguida se servirá para impelir a alma a austeridade indiscreta, à vaidade, à presunção, seguida bem depressa de desalento.




  3. Da própria natureza: há temperamentos imaginados, emotivos, otimistas, que, dando-se à piedade, nela encontram naturalmente pasto para a sensibilidade.



As consolações oferecem indubitavelmente as suas vantagens:




Facilitam o conhecimento de Deus: a imaginação, auxiliada pela graça, compraz-se em representar as amabilidades divinas, o coração saboreia-as; e então a alma sente gosto na oração e em longas meditações, e compreende melhor a bondade de Deus.




Contribuem para fortalecer a vontade: esta, não encontrando já, nas faculdades inferiores, obstáculos, antes pelo contrário auxiliares preciosos, desprende-se facilmente das criaturas, ama a Deus com maior ardor e toma enérgicas soluções que mais facilmente observa, graças aos auxílios alcançados pela oração; amando a Deus de modo sensível, suporta generosamente os pequenos sacrifícios de cada dia, impondo-se até voluntariamente algumas mortificações.




Ajudam-nos a contrair hábitos de recolhimento, oração, obediência, amor a Deus que até certo ponto perseverarão, depois de desaparecidas as consolações.




Tem, contudo, também os seus perigos estas consolações:




Provocam uma espécie de gula espiritual, que faz que a alma se prenda mais às consolações de Deus do que ao Deus das consolações, a tal ponto que, mal desaparecem, logo se descuram os exercícios e os deveres de estado. Até o momento em que delas desfrutam essas almas, está longe de ser sólida a sua devoção: quantas vezes, sobre uma torrente de lágrimas sobre a paixão de Nosso Salvador, lhe recusam o sacrifício de tal amizade sensível, de tal privação! Ora, não há virtude sólida senão quando o amor de Deus vai até o sacrifício inclusivamente: "Há muitas almas que tem destas ternuras e consolações, e nem por isso deixam de ser muito viciosas; e por conseguinte não tem verdadeiro amor de Deus nem muito menos verdadeira devoção" (São Francisco de Sales, Vie devóte, IV).




Favorecem muitas vezes a soberba sob uma ou outra forma: 1) a vã complacência em si mesmo: quando um sente consolação e facilidade na oração, crê facilmente que já é santo, sendo que não passa ainda de noviço da perfeição; 2) Vaidade: sente-se o homem enorme desejo de falar aos outros destas consolações (na forma de testemunho), para se dar importância; e então muitas vezes Deus o priva dessas consolações por tempo notável; 3) a presunção: jugando-se forte, invencível, expõe-se por vezes ao perigo ou ao menos começa a repousar, quando seria necessário dobrar os esforços para avançar.




Para se tirar proveito das consolações divinas e escapar aos perigos que acabamos de assinalar, eis as regras que devemos seguir:








  1. Não há dúvida que se deve pedir e desejar as consolações condicionalmente, com a intenção de as utilizar somente para amar a Deus e cumprir sua santa vontade.




  2. Quando nos são dadas estas consolações, recebamo-las como gratidão e humildade, reconhecendo-nos indignos delas e atribuindo tudo a Deus.




  3. Tendo-as recebido com humildade, empreguemo-las cuidadosamente segundo a intenção daquele que no-las dá. Ora Deus concede-no-las, diz São Francisco de Sales, "para nos fazer suaves para com todos e amorosos para com Ele".




  4. Havemos, enfim, de nos persuadir que estas consolações não durarão para sempre, e pedir a Deus humildemente a graça de servi-lo na secura espiritual, quando ela no-la quiser enviar. E, entretanto, ao invés de querermos prolongar com esforço de cabeça estas consolações, o que importa é moderá-las e unir-nos fortemente ao Deus das consolações.




(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Apostolado da Imprensa - 1961)

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Catecismo Online: "Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi cruscificado, morto e sepultado". (Postado em 31/10/2007)

Pela declaração de "não conhecer outra coisa senão a Jesus Cristo, e por sinal de crucificado" (1Cor 2,2), o Apóstolo acentua a grande necessidade de conhecermos este artigo, e o zelo que se deve ter os fiéis ao meditar a Paixão de Cristo.






A primeira parte deste artigo nos propõe a crer que Cristo Nosso Senhor foi crucificado, quando Pôncio Pilatos governava, em nome de Tibério César, a província da Judéia. Fora encarcerado, escarnecido, coberto de toda a sorte de opróbrios e tormentos, e finalmente pregado no madeiro da Cruz.






Ninguém deve supor que a parte inferior de sua alma ficasse isenta de torturas. Uma vez que Cristo assumiu, realmente, a natureza humana, força a reconhecer que também na alma sentiu dores fortíssimas. Esta é a razão de ter dito: "A minha alma está triste até a morte" (Mt 26,38).







É certo que a natureza humana estava ligada a Pessoa divina, mas nem por isso deixou de sentir menos amargura no momento da paixão. Era como se tal união não existisse; na pessoa única de Jesus Cristo se conservam as propriedades de ambas as naturezas. Por conseguinte, o que era passível e mortal continuou a ser passível e mortal; por sua vez, o que era impassível e imortal - como cremos ser a natureza divina - conservou suas propriedades.







Neste artigo, notamos como insiste em indicar que Jesus Cristo sofreu durante o tempo que Pôncio Pilatos governou a Judéia. Outra informação referente ao assunto seria que tais indicações provassem como
realmente se cumpriu a predição de Nosso Senhor: "Entregá-lo-ão aos gentios", disse ele, "para ser escarnecido, flagelado e crucificado".







Devemos atribuir a um designo de Deus que Cristo, para morrer, escolhesse o madeiro da Cruz. Foi para que dali mesmo renascesse a vida, por onde tinha vindo a morte". Com efeito uma serpente que através de uma árvore vencera os nossos primeiros pais, foi vencida por Cristo na árvore da Cruz.







Poderíamos, ainda, alegar muitas outras razões, que os santos padres desenvolveram mais largamente, e por elas demonstrar, quanto convinha que Nosso Senhor sofresse, de preferência, a morte na Cruz.







Não eram os pagãos, os únicos a verem com repulsão o suplício da Cruz. A própria lei de Moisés chama de "maldito o homem que pende do madeiro" (Deut 21,23; Gal 3,13).


(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - Ed. Vozes - 1962)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Liturgia: Atitudes e gestos litúrgicos (Postado em 17/12/2007)


Podemos dizer que são três, as diversas atitudes do padre orando: estará direito, inclinado ou de braços estendidos.



a) Direito: sinal de confiança. Todo cristão, por ser filho adotivo de Deus, pode andar de cabeça erguida e fitar o Céu. Maiores direitos assistem os sacerdotes, porque ministro do sacrifício, para ficar em atitude confiante, sem acabamento, rezando de pé.






b) Inclinado: Sinal de humilhação. Ainda que a confiança seja sem limite, cumpre o padre de não esquecer que é pecador. Para subir aos altares, precisa ter puro o coração. Logo, inclinar-se-á para se humilhar e exprimir o seu arrependimento.






c) Braços estendidos: Nesta posição costuma rezar todos desde os primórdios do cristianismo. Era para lembrar, com a cruz assim formada, a morte de Nosso Senhor. Isso vemos nas pinturas das catacumbas: os fiéis piedosos, orando, homens e mulheres, estão de braços estendidos. Era de uso geral tanto do povo como do clero. Consoante as rubricas atuais, basta apenas que o sacerdote afaste um pouco as mãos em atitude suplicante.






Melhor talvez do que as atitudes são os gestos litúrgicos que exprimem os sentimentos do sacerdote. - a) Faz Genuflexões e até as vezes, como na Sexta-feira da Paixão e no Sábado de Aleluia, prostra-se em sinal de respeito e adoração.






b) Dirige-se ao chão os olhares, para se humilhar diante de Deus e reconhecer que não passa de pó e cinzas.






c) Ergue ao céu a vista, na hora da consagração, como costumava ergue-la Nosso Senhor ao realizar os milagres mais grandiosos, afim de pedir auxílio ao seu Pai.






d) Bate no peito, quando reza o Confíteor, o Nobis quoquer peccatóribus, o Agnus Dei, o Dómine non sum dignus, para indicar que é pecador e está arrependido de suas culpas.






e) Abre os braços, voltando-se para o povo, afim de o saudar e o convidar a rezar junto consigo.






f) Põe as mãos, é sinal de piedade e recolhimento fervoroso.






g) No Ofertório, lava as mãos, exprimindo a pureza necessária para o divino sacrifício.






h) Beija o altar várias vezes, no qual se encerra uma relíquia de santo; Beija o Missal no lugar onde acaba de ler o evangelho; beija a patena na hora em que ela está pronta para receber o santíssimo corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em todas as circunstâncias, os ósculos apresenta significações: é mostra natural de afeto santo e é manifestação de respeito e veneração.



Fonte: Doutrina Católica - Manual de instrução religiosa para uso dos Ginásios, Colégios e Catequistas voluntários - Curso Superior - Terceira parte - Meios de Santificação - Liturgia - Livraria Francisco Alves - Editora Paulo de Azevedo Ltda - São Paulo; Rio de Janeiro; e Belo Horizonte - 1927

domingo, 13 de abril de 2008

III Domingo depois da Páscoa: "Ainda mais um tempo e não me vereis mais" (Ev.)





A santa Igreja, cheia ainda das alegrias da Páscoa, irrompe num cântico de júbilo e proclama a glória de Deus. "Ainda mais um pouco, disse Jesus no cenáculo, e não me vereis; havereis de chorar então e de vos lamentar. E mais um pouco ainda, e ver-me-eis de novo e o vosso coração se alegrará."
Os apóstolos sentiram de feito esta alegria iluminante, de que transborda a liturgia pascal, ao comtemplar de novo a carne e as feições do Amigo e do Mestre ressuscitado. A páscoa da terra é a preparação e a representação da Páscoa eterna, da Páscoa das alegrias totais, de que há de partilhar a Igreja depois de dará luz no exílio e na dor os que foram marcados na fronte com o sinete da vida. Esta alegria já começa aqui na terra, começa na esperança, spe gaudentes, e por aquela presença de Cristo, invisível mas real, que prometeu aos que buscam.
Peregrinos e estrangeiros que vamos a caminho do céu, animemo-nos daquela alegria cristã a qual nos leva até Deus, o qual nos virá em auxílio e conduzirá ao término da viagem à vitória. Que a luz de Cristo ressuscitado nos ilumine a todos.


Evangelho de Domingo:


Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo São João: Naquele tempo disse Jesus a seus discípulos:
Ainda um pouco de tempo, e já me não vereis; e depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver, porque vou para junto do Pai.
Nisso alguns dos seus discípulos perguntavam uns aos outros: Que é isso que ele nos diz: Ainda um pouco de tempo, e não me vereis; e depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver? E que significa também: Eu vou para o Pai?
Diziam então: Que significa este pouco de tempo de que fala? Não sabemos o que ele quer dizer.
Jesus notou que lho queriam perguntar e disse-lhes: Perguntais uns aos outros acerca do que eu disse: Ainda um pouco de tempo, e não me vereis; e depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver.
Em verdade, em verdade vos digo: haveis de lamentar e chorar, mas o mundo se há de alegrar. E haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza se há de transformar em alegria.
Quando a mulher está para dar à luz, sofre porque veio a sua hora. Mas, depois que deu à luz a criança, já não se lembra da aflição, por causa da alegria que sente de haver nascido um homem no mundo.
Assim também vós: sem dúvida, agora estais tristes, mas hei de ver-vos outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria.


Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

sábado, 12 de abril de 2008

Contra-Reforma: O Espírito de contra-reforma (Postado em 23/02/2008)

Hoje iniciamos uma série de postagens que terá por objetivo desmascarar os erros da heresia que a cada dia ganha espaço no Brasil. O Brasil é considerado o país com o maior número de pessoas que se declaram católicos. Nasceu com as bênçãos da Igreja em 1500, e até a presente data, continua com um número expressivo de católicos. Os ataques furiosos dos hereges, que em sua maioria de proveniência protestante pentecostal, tem levado muitos fiéis da Igreja de Cristo a caírem no erro da heresia e da blasfêmia.



Começaremos nossas postagem com uma fascinante viajem pela história, para conhecermos as heresias que surgiram no início do cristianismo e que até hoje influência muitos. Iremos comparar as heresias do passado com as dos presente, e assim veremos que estas não são muito diferentes. Faremos uma análise desses erros, tanto no que diz respeito a doutrina quanto no que diz respeito a moral e a ética.




Destruiremos o mito da inquisição sanguinária e cruel criada pelos historiadores que seguem o pensamento materialista de Marx. Chegaremos a uma conclusão referente as grandes Cruzadas que foram promovidas pelos cristão para salvar os fiéis perseguidos pelos muçulmanos e a devolução da terra santa dos cristãos.




Na primeira postagem vamos nos ater sobre o espírito de contra-reforma.




A contra-reforma foi a resposta dada pela Igreja contra a pseudo-reforma de Lutero no século XVI, que se separou da Igreja por meio da rebeldia e do pecado. Lutero chamou seu movimento de "reforma", sendo que, de reforma não tivera nada, a não ser a destruição dos verdadeiros ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo confiados a sua única Igreja. Lutero não entendera muitos dos dogmas da Igreja e muito menos tivera uma boa instrução religiosa para exercer a teologia, sendo fraco nas disciplinas e na piedade.




O Espírito de Contra-reforma fora inaugurado pelo Concílio de Trento no século XVI e durou oficialmente até o Concílio Vaticano II nos anos 60 do Século XX. Uma das observações que se pode notar da tentativa de se encerrar a Contra-reforma foi a doutrina permissiva do Ecumenismo, que fora condenada por Papas anteriores ao mesmo.



Não devemos deixar que o verdadeiro espírito de Contra-reforma, seja dissolvido mediante a tantos erros e perversidades que se encontra o mundo atual. Devemos proclamar e exaltar a verdade sem medo dos manifestos e protestos dos hereges, para que assim possamos dizer com o salmista: "É que o zelo de vossa casa me consumiu, e os insultos dos que vos ultrajam caíram sobre mim"(Sal 68, 10).


Divisão do Módulo:

História Eclesiástica: História das Heresias - I Parte

Liberalismo e Apostasia - II Parte

Concílio Vaticano II - III Parte

A Contra-reforma no mundo Moderno - Parte Final

No próximo sábado iremos iniciar o primeiro módulo no qual iremos estudar a história das heresias. A aula inaugural será sobre o significado da palavra heresia.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Teologia Ascética e Mística: A Soberba (Postado em 26/06/2007)




"O orgulho diz Bossuet, é uma depravação mais profunda; por ele o homem, entregue a si mesmo, considera-se seu próprio Deus, pelo excesso do seu amor-próprio". Esquecendo que Deus é seu primeiro princípio e último fim, estima-se a si mesmo em excesso, aprecia as verdadeiras ou pretensas qualidades, como se foram suas, sem as referir a Deus. Daí esse espírito de independência ou de autonomia que o leva a subtrair-se à autoridade de Deus ou dos seus representantes; esse egoísmo que o inclina para si mesmo como se fora seu próprio fim: essa vã complacência que se deleita na própria excelência, como se Deus não fosse dela o autor.




Os efeitos do orgulho são deploráveis: é o maior inimigo da perfeição: 1) porque rouba a Deus a glória, e por isso mesmo nos priva de muitas graças e merecimentos, pois Deus não quer ser cumplice da nossa soberba; 2) é a fonte de numerosos pecados: pecados de presunção, punidos com quedas lamentáveis e vícios odiosos; de desânimo, quando o orgulho vê que caiu tão baixo; de dissimulação, porque lhe custa confessar as suas desordens; da resistência aos superiores, de inveja e ciúme a respeito do próximo, etc.




O remédio para tal mazela em primeiro lugar é o reconhecimento de que Deus é o autor de todo bem e que, sendo o primeiro princípio de nossas ações, deve ser o último fim. Este é o remédio que sugere São Paulo Apóstolo: "Que tem tu que não tenhas recebido? E se o recebeste, porque te glorias, como se não houveras recebido?" Donde conclui que todas as nossas ações devem tender à glória de Deus.




Como, porém, a nossa natureza nos leva constantemente a buscar-nos a nós mesmos, é necessário para reagir contra essa tendência, lembrando-nos mesmo não somos mais que nada e pecados. Há em nós sem dúvida, boas qualidades naturais e sobrenaturais, que soberanamente devemos estimar e cultivar; mas como estas qualidades vem de Deus, não é porventura a Deus que por causa delas devemos glorificar? Quando um artista saiu com uma obra-prima, a quem se devem os elogios? À tela ou ao seu autor?









(Fonte: Compêndio da teologia Ascética e Mística - Livraria Apostolado da Imprensa: 1960)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Catecismo Online: "Nasceu de Maria Virgem..." (Postado em 18/10/2007)


Esta parte do presente artigo do credo impõe aos fiéis a obrigação de crerem que o Senhor Jesus não só foi concebido por obra do Espírito Santo, mas também que nasceu de Maria Virgem, e por ela foi posto neste mundo.





O anjo foi o primeiro a anunciar esta verdade ao mundo. Esta mensagem de grande felicidade, e suas palavras dão-nos facilmente a entender, com quanta alegria e elevação de espírito não devemos meditar este mistério da fé: "Eis que venho anunciar-vos uma grande alegria para todos os povos". E também aos cantos dos coros celestiais: "Glória a Deus nos mais alto dos céus e paz aos homens de boa vontade!"





Desde aquele instante, começou portanto a cumprir-se a grandiosa promessa de Deus a Abraão, quando lhe dissera que, um dia, "todos os povos seriam abençoados em sua descendência". Maria, a qual proclamamos e veneramos como sendo a verdadeira mãe de Deus, por ter dado a Luz ao Salvador que é ao mesmo tempo Deus e homem, descendente da estirpe real de David.





Se a própia conceição já excede toda a ordem da natureza, em seu nascimento nada podemos contemplar que não seja de caráter divino.





O que há de mais admirável, o que sobrepuja a tudo quanto se possa dizer ou imaginar, é o fato de ele nascer de sua mãe, sem a menor lesão a sua virgindade materna.





Assim como mais tarde Cristo saiu do sepulcro fechado e selado; assim como "entrou para junto de seus discípulos, apesar de as portas estarem fechadas"; assim como, na observação diária da natureza, vemos os raios solares atravessarem um vidro compacto, sem o quebrar, e sem lhe fazer o menor estrago; assim também, e de maneira mais sublime, nasceu Jesus Cristo do seio de sua mãe, sem nenhum dano para a integração materna.





É pois, com mais justos louvores que, em Maria, enaltecemos uma virgindade perpétua e intemerata. Operado este milagre pela virtude do Espírito Santo. De tal modo a Mãe na conceição e no nascimento do filho que, dando-lhe fecundidade, lhe conservou todavia a perpétua virgindade.





De vez em quando, costuma o Apóstolo designar a Cristo como sendo o "Segundo Adão", e a confrontá-lo com o primeiro Adão. Realmente, assim como pelo primeiro todos os homens sofrem a morte, assim pelo segundo são todos novamente chamados à vida. Assim como Adão foi pai do gênero humano pelas leis da natureza, assim também Cristo é o autor da graça e bem-aventurança.





Por idêntica analogia, podemos comparar com Eva à Virgem Maria. A primeira Eva corresponde com a segunda, que é Maria; assim como acabamos de mostrar que o segundo Adão, isto é, Cristo, corresponde ao primeiro Adão.





Por ter dado crédito à serpente, Eva acarretou morte e maldição ao gênero humano. Maria acreditou nas palavras do anjo, e obteve para os homens que viesse as bênçãos e a vida. Por culpa de Eva, nascemos filhos da ira; por Maria recebemos Jesus Cristo, que nos regenera como filhos da graça. A Eva foi dito: "Em dores darás luz a teus filhos". Maria ficou isenta desta lei. Conservando sua integridade de virginal pureza, como dizíamos há pouco, Maria deu a luz a Jesus, filho de Deus, sem sofrer dor de espécie alguma.





Visto serem tão grandes e tão numerosos os mistérios desta admirável conceição e nascimento, covinha que a divina providência os fizesse anunciar, por meio de muitas figuras e profecias.





Esta é a razão por que os Santos Doutores aplicam a este mistério muitos trechos, que lemos em vários lugares da Sagrada Escritura. Entre os quais se fala principalmente da porta do Santuário, que Ezequiel viu fechada; da pedra que se desprendeu do monte, "sem a intervenção das mãos humanas", como diz Daniel, " a qual se avolumou em grande montanha, e encheu toda a superfície da Terra" (Dan 2,34-35); da "vara de Aarão, a única que deitou rebentos, entre as varas dos príncipes de Israel" (Num 17,8); da sarça-ardente que Moisés viu arder sem se consumir (Exod 3,2ss).
(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - Editora Vozes - 1961)

terça-feira, 8 de abril de 2008

Liturgia: Diferentes tipos de missa (Postado em 14 de Janeiro de 2008)





Espécies: Podem-se distinguir duas espécies de missa - Missa Maior e Missa rezada




Missa Maior será assim chamada por constar de cerimônias numerosas e durar mais tempo.




Dir-se-á: - 1. A missa solene, quando houver diácono e subdiácono a acolitar; - 2. Missa cantada, quando o padre celebrar sozinho, com os meninos do coro.




Nos primeiros séculos, diziam quase sempre Missa solene. Celebrava o Pontífice, rodeado pelos sacerdotes que celebravam conjuntamente e ajudado pelos demais ministros inferiores que exerciam as funções próprias da respectiva Ordem.




Missa rezada, é o nome da missa em que o padre não canta. No século VIII, é que se tornou geral o uso das missas rezadas mas não deixava de ser conhecido nos alvores do cristianismo. Acontecia que os apóstolos e seus sucessores celebravam, sem aparato de solenidade, os santos mistérios, ora em residência particulares, ora nas masmorras e nos cemitérios, e não só de motivo de força maior, mas também por simples devoção. Falta qualquer base histórica na acusação dos protestantes, dizendo que a missa rezada é invenção da Igreja, contrariando a primitiva instituição. Neste compêndio, é o estudo da Missa solene que se faz, porque é mais complexo abrangendo o mais simples.




Divisão da Missa: A missa consta de seis partes principais que são: - a) preparação para o sacrifício; b)instrução; c) oblação; d)cânon; e) comunhão, e f) ação de graças.




Nos primórdios do cristianismo era outra a divisão da missa. O começo era até o ofertório. Abrangia a preparação e a instrução e tinha o nome de missa dos catecúmenos. É porque os catecúmenos, com os judeus e os pagãos, a 2ª classe e a 3ª classe dos penitentes, quer dizer os ouvintes e os prostrados, podiam assistir até à instrução, sendo então despedidos pelo diácono. A segunda parte era o sacrifício eucarístico propriamente dito. Era a missa dos fiéis porque só eles, com os penitentes de 4ª classe ou consistentes, podiam assistir. Entende-se que estes usos desapareceriam quando desaparecesse o próprio catecumenato e a penitência pública. Todavia, permaneceu o caráter especial de cada parte. Na primeira, sucedem-se leituras dos livros Santos, cânticos de salmos e pregações referentes a estes textos. O papel principal é dos fiéis e dos ministros inferiores. A segunda parte diz respeito exclusivamente do sacrifício, e é quase só do padre.




Fonte: Doutrina Católica - Manual de instrução religiosa para uso dos Ginásios, Colégios e Catequistas voluntários - Curso Superior - Terceira parte - Meios de Santificação - Liturgia - Livraria Francisco Alves - Editora Paulo de Azevedo Ltda - São Paulo; Rio de Janeiro; e Belo Horizonte - 1927