quarta-feira, 12 de março de 2008

Catecismo Online: "Donde há de vir e julgar os vivos e mortos" (Parte III)


Sobretudo, era mister que a lembrança do juízo alentasse os bons, e aterrasse os maus. Conhecendo a justiça de Deus, aqueles não viriam a desfalecer; estes seriam arredados do mal, graças ao temor e à expectação dos eternos castigos.


Por isso, falando do último dia, Nosso Senhor e Salvador declarou que haveria um juízo universal. Descreveu os sinais do tempo em que há de chegar, para que, ao vê-los, reconhecêssemos estar perto o fim do mundo. Depois, no momento de subir ao Céu, enviou anjos que disseram aos apóstolos, tristes com sua ausência, as seguintes palavras de consolação: "Este Jesus que de vosso meio foi arrebatado ao céu, há de vir assim como o vistes subir aos céus" (Atos 1,11).



Ensinaram as sagradas escrituras, que a Cristo Nosso Senhor foi entregue o julgamento, não só enquanto Deus, mas também enquanto Homem. Ainda que o poder de julgar é comum a todas as Pessoas da Santíssima Trindade, contudo o atribuímos ao filho de modo particular, por dizermos que lhe compete também a sabedoria. Uma declaração do Senhor confirma que ele, em quanto homem, há de julgar o mundo: "Assim como o Pai tem a vida em si mesmo, assim concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo; e conferiu-lhe o poder de julgar, porque é o filho do homem"(Jo 5,26ss).



Fica muito bem que tal juízo seja efetuado por Cristo Nosso Senhor, já que os julgados são homens, se-lhes-á possível ver o juiz com os olhos corporais, e com os próprios ouvidos escutar a sentença que for lavrada, e pelos sentidos chegar ao perfeito conhecimento da ação judicial.



De mais a mais, era de suma justiça que aquele Homem, que fora condenado por sentença de homens malvadíssimos, tomasse assento à vista de todos, para julgar todos os homens. Por isso, depois de expor, em casa de Cornélio, os pontos capitais da religião cristã; depois de ensinar que Cristo fora crucificado e morto pelos judeus, mas que ao terceiro dia havia ressurgido: O Príncipe dos Apóstolos não deixou de acrescentar: "E deu-nos ordem de pregar ao povo, e testemunhar que foi por Deus instituído juiz dos vivos e dos mortos"(Atos 10,42).



Como sinais que precedem o juízo, as Sagradas Escrituras enumeraram três principais: a pregação do Evangelho pelo mundo inteiro, a apostasia, o anticristo.



Com efeito, assim falou Nosso Senhor: "Será pregado este Evangelho do Reino por todo o mundo, para servir de testemunho a todos os povos, e depois há de vir a consumação" (Mt 24,14). E o Apóstolo adverte-nos que ninguém se iluda, "como se o Dia do Senhor esteja vizinho"(1Thi 2,2); porquanto não se fará o juízo, "sem que venha antes a apostasia, e tenha aparecido o homem do pecado"(2Thi 2,3).



As circunstâncias do juízo pode-se ver comodamente nas profecias de Daniel (Dan 7,9), na doutrina dos Santos Evangelhos (Mt 24,1ss; 25,1ss Mc 13,26) e do Apóstolo (1Cor 15,52; 1Thi 2,1-11; 4,12-16; 5,1-11).



Neste lugar, contudo, merece maior atenção a sentença que o juiz vai pronunciar (Mt 25,34).



Cristo Nosso Senhor irá lançar um lugar de jubilosa complacência para os justos colocados à direita, e com extremos de bondade lhes dirá a seguinte sentença: "Vide, benditos de Meu pai, tomai posse do meu reino, que vos está preparado desde o princípio do mundo" (Mt 25,34).



Não se poderá ouvir palavra mais suave do que esta! Assim há de averiguá-lo quem a cortejar com a condenação dos maus; quem levar em conta que tal sentença chama os bons e justos, da labuta ao descanço, deste vale de lágrimas aos cimos da alegria, das tribulações à eterna bem-aventurança, que mereceram por suas obras de caridade.



Volvendo-se, então, para aqueles que estarão à esquerda, lançará sobre eles o rigor da sua Justiça, usando das palavras: "Apartai-vos de Mim malditos, para o fogo eterno que foi preparado ao demônio e seus anjos" (Mt 25,41).



As primeiras palavras - "apartai-vos de mim" - exprimem a maior das penas que afligirá os maus, quando forem lançados o mais longe possível da presença de Deus, sem que os possa consolar a esperança de virem jamais a gozar de um bem tão grande.



Esta é a pena que os teólogos chamam "pena do dano", porque os réprobos no inferno ficarão para sempre privados da luminosa visão de Deus.



O acréscimo "malditos agrava-lhes a miséria e a desgraça, de uma maneira pavorosa. Se, na verdade, ao serem escorraçados da presença de Deus, fossem pelo menos julgados dignos de alguma bênção, não há dúvida de que nisso poderiam ter grande consolo. Mas, como não lhes é dado esperar nada de semelhante para mitigar sua desgraça, de pleno direito a justiça divina os persiguirá, com todas as maldições, a partir do momento em que são repudiados.



(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)

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