sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Retrospecto do mês: Uma análise dos acontecimentos do mês de Agosto e antecedentes


O mês de Agosto já está terminando, e com ele ficam os nossos agradecimentos a Deus Nosso Senhor por mais um mês que se finda e por mais um outro que se inicia. Peçamos a Deus pelas almas dos que não tiveram a mesma oportunidade de terminar este mês estando entre nós, para que Deus os conceda o descaço eterno e a paz.





Este mês que se despede tem por característica a devoção dos grandiosos mistérios da Santíssima Virgem. Sua assunção, coroação e seu imaculado coração. Virgem mãe que na atualidade tem sofrido constantes ataques furiosos dos hereges, que seguindo uma doutrina humana, demonstra-se contraditória e causadora de subjetivismo.






Uma vez me questionava sobre o olhar com que os católicos de hoje olham para a figura amável e doce da Santíssima Virgem. Pensei que, muitos poderiam responder se fossem indagados: "como uma mãe" ou "como a mãe de Jesus e nossa também". Mas muitos se esquecem de olha-la como uma mulher que venceu o mundo. Como a Senhora, que com a graça de Deus venceu as trevas do pecado, o demônio e a carne.






Muitos católicos não chegam a compreender a grandiosidade do título dado a Mãe de Jesus de "Virgem", e a sua riqueza demonstrada de forma mais profunda aos corações inclinados a contemplação. Virgem, meus caros irmãos, significa uma mulher que se privou dos prazeres terrenos por um amor extremo a Deus. Significa também, uma mulher que venceu o mundo com suas tentações e malícias, por incomensurável amor ao divino. Virgem significa também, um amor sem medidas, pois privou-se de tudo o que hoje chamamos de "curtir a vida" para verdadeiramente gozar das alegrias verdadeiras que estão no Altíssimo.





A figura de Maria Santíssima tem em muito a nos ensinar, como o valor da maternidade. Quem no mundo poderia ser escolhida para ser a mãe do próprio Deus? Não podia ser qualquer pessoa a ter a graça de receber em seu seio o criador do universo, já que Deus e o pecado se repelem. Teria de ser uma alma e corpo santo e imaculado. Um corpo que não provou dos pecados e que se privou de outros prazeres lícitos por amor. Uma alma caridosa, justa, humilde para acolher o amor infinito sem que jamais o orgulho passasse por seu coração mas sim o reconhecimento de que o autor de tão grande maravilha era seu Senhor: "grandes coisas fez em mim aquele que o nome é santo" (Lc 1,49).



Poderia hoje citar inúmeros casos de qualificação lamentável que tivemos a infelicidade de presenciar neste mês de agosto. Mas prefiro me abster destes fatos para neste mês valorizar a importância da oração e das práticas das virtudes que tem perdido espaço dentro de nossos corações modernizados. Por isso exalto a figura de Maria Santíssima, para que nós olhemos para a Virgem como ponto de referência, levando-nos até a seu filho Jesus. Vejamos os exemplos dos outros santos, cuja memória lembramos neste mês que se encerra. Santa Clara com seu amor à pobreza e a caridade com seus semelhantes; Santo Agostinho pela sua sede de verdade e de apostolado; Santa Mônica com sua vida de orações e modelo exemplar de mãe zelosa, pela salvação e integridade de seus filhos; Santa Rosa de Lima por seu amor e sua vida cheia de privações e penitências; São Luís Rei de França com seu zelo pelas coisas santas e exemplo sublime de chefe de Estado; São João Batista que defendeu a moral e a fé com o próprio sangue; e muitos outros que todos nós conhecemos.





Vendo todos os fatos deste mês e seus antecedentes, aos quais lamentamos muito, chegamos a conclusão de que o mundo está longe dos ideais de Nosso Senhor Jesus Cristo, que encontrou fiel seguidora a sua própria Mãe e os inúmeros seguidores, que hoje são elevados a honra dos altares. Peço, encarecidamente, aos leitores deste blog, que neste novo mês que se inicia, a olharem para a bandeira do Brasil com um olhar diferenciado. Olhemos para o verde de nossa bandeira, como quem vê a esperança de nossa nação em dias melhores e felizes. Olhemos para o amarelo, e vejamos a riqueza da nossa fé e de nossas boas obras. E olhemos para o céu estrelado, azul e anil, lembrando que nossa verdadeira pátria é o céu, e que só conquistaremos se tivermos uma vida coerente e de acordo com os princípios divino. Pensemos na palavra "ordem", no sentido espiritual e do Estado de direito. Que as leis de Deus e do estado (desde que de acordo com a primeira), sejam implementadas visando a paz e a ordem na nação. Pensemos no "progresso" não como um progresso apenas material, mas num progresso humano e espiritual. Entreguemos nossas vidas nesses ideais para a construção de uma nova sociedade, mais próximas dos ideais evangélicos. E que a Senhora das Dores interceda por nós e principalmente pelos que sofrem nesta terra de exílio e peregrinação.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

30 de Agosto, Santa Rosa de Lima, Virgem e Padroeira da América Latina

Santa Rosa nasceu em Lima, capital do Peru, fundada em 1535 pelo conquistador Francisco Pizarro. Esta cidade surgiu com vocação para grandeza: deveria ser a capital do vice-reinado espanhol.



Rosa, mesmo não tendo consciência clara de tudo, viveu a tragédia do Ocidente cristão: a irrupção do protestantismo que rompeu a unidade religiosa; o surdo duelo da reforma e da Contra-Reforma; viveu também a empresa tirânica dos missionários protestantes empenhados em cristianizar rapidamente o novo mundo, uma vez que a Igreja de Cristo perdia o velho mundo.



Neste cenário de feitos grandiosos e dramáticos, a vida de Rosa passa quase que imperceptível. Foi breve, oculta, interior, eremítica, silenciosa. Por ser mulher não teve expressão social. Mas, mesmo assim, desde o princípio, o povo vibrou com rosa. Reconheceu suas virtudes e a chamou de santa muito antes de sua morte e declaração oficial do vaticano.


Nasceu no dia 30 de Agosto de 1586. Seu Pai escreveu cuidadosamente no seu livrinho de anotações familiares: "O parto foi sem dor e sem dificuldades, o que é considerado como 'milagre manifesto de sua Divina Majestade'; por isso eu dou infinitas graças a Deus.


Desejava ardentemente se consagrar a Deus. Para não contrariar seus pais entrou na ordem terceira dominicana na qual era fiel. Uma vida austera e carregada de penitências. Construiu uma cela estreita nos fundos do quintal da casa de seus pais onde vivia uma vida religiosa. Foi extremamente caridosa para com todos, especialmente para com os índios e negros, aos quais prestava os serviços mais humildes em caso de doença.


Conta-se que era constantemente visitada pela Virgem Maria e pelo Menino Jesus, que quis repousar certa vez entre seus braços e a coroou com uma grinalda de rosas, que se tornou seu símbolo. Também é afirmado que tinha constantemente junto a si seu Anjo da Guarda, com quem conversava. Ainda em vida lhe foram atribuídos muitos favores; milagres de curas, conversões, propiciação das chuvas e até mesmo o impedimento do saque de Lima pelos piratas holandeses em 1615.


Assemelhou-se tanto ao seu divino mestre que teve a graça de ganhar a morte com os sofrimentos da Paixão de seu amado Senhor. Morreu no dia 24 de agosto de 1617, aos 31 anos de idade. E considerada padroeira da América Latina.


(Garcia, Baijamin, Rosa de Lima. Ed. Paulinas. 1994. São Paulo)

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

29 de Agosto, Degolação de São João Batista

Depois de celebrar a 24 de Junho o alegre nascimento de São João Batista na terra, a Santa Igreja honra hoje seu nascimento no Céu. Depois de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem, é o único santo cujo nascimento e morte se festeja. João o Precursor, que vivera 30 anos no deserto e que lá florescera como a palma, e como o cedro do Líbano se elevou, teve a coragem de repreender Herodes na casa por haver ilegitimamente com Herodíades, esposa de seu irmão Felipe, vivo ainda. Herodias constrangeu o rei Herodes a prendê-lo e aproveitou-se de um incidente inesperado para obter por intermédio de sua filha Salomé a decapitação do santo, que repreendia a sua criminosa paixão. São João põe hoje remate a sua missão de precursor, ajuntando aos testemunhos que de Cristo só já dera no seu nascimento, pregação e batismo, mais este, o testemunho do seu sangue. Sofreu pela festa da páscoa, um ano antes da paixão do Senhor, mas celebra-se hoje o seu aniversário por se ter encontrado neste dia a sua admirável cabeça na Síria, em 452.

Que ensinamentos grandioso podemos tirar da vida deste grande santo para os dias atuais? Quando se defende a moral e os bons costumes o que nos acontece? Vejamos este exemplo como ele é tão atual e verdadeiro para nossas vidas.



Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

28 de Agosto, Santo Agostinho, Bispo, Confessor e Doutor

Santo Agostinho nasceu em 354 em Tagaste (atual Argélia). A sua mãe, Santa Mônica muito cedo o ensinou a rezar. Depois de ouvir com muito amor as santas lições de sua mãe, deixou-se arrastar por graves desordens. " Os meus pecados dizia mais tarde, era como uma bola de neve que aumenta na medida que vai rolando". A sua mãe desolada, orava sem cessar, acompanhando com lágrimas a carreira de seu filho desorientado. Cartago era pequeno para o gênio inquieto de Agostinho. Deixou, pois, esta cidade e partiu para Roma e daí para Milão, onde obteve a direção da cadeira de retórica. A pedido de Santa Mônica, Santo Ambrósio o acolheu com bondade o jovem professor e esclareceu-o sobre as verdades da doutrina católica. Depois de se perder no marasmo das filosofias, Agostinho começava a pressentir e a despertar pouco a pouco dentro de si a luz radiosa da verdade. Um dia por inspiração do alto, abrira a Epístola de São Paulo na passagem que diz: "Não vos atolei no vício e na crápula, mas revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo". E logo a irresolução, que por tanto tempo o torturava, cessou. Recebeu o sacramento do batismo na noite do sábado santo do ano 387, com 32 anos de idade. Sete meses depois deste grande acontecimento, Santa Mônica morria, alegre por o ver convertido e pedia-lhe que não a esquecesse no altar do Senhor. E Agostinho mais tarde, já sacerdote, dizia com freqüência: "Senhor tende compaixão de minha mãe, ela era boa, perdoava facilmente, perdoai-lhe também os seus pecados". Depois de regressar a África, recebeu a sagrada ordem de presbítero, e tendo sido elevado a cadeira episcopal de Ipona com 41 anos de idade, começou a partir desta data, a viver canonicamente, ou seja, a levar uma vida comum com o seu clero. Esta comunidade deu padres e bispos para todas as Igrejas da África, e contribuiu para espalhar pelo clero a prática da vida comum. A regra de Santo Agostinho, que lhe confere jus de ser nomeado entre os quatros grandes fundadores de Ordens religiosas, foi tirada da carta 211 que ele escreveu para religiosas, e que mais tarde fora adaptada aos homens. Graças à sublimidade de sua doutrina e ao ardor de seu amor, é considerado um dos quatro grandes doutores da Igreja do Ocidente. Combateu com vigor as heresias, que não faltavam no seu tempo (e o que mais tem hoje), e morreu com 36 anos de episcopado, em 430, a recitar os salmos penitenciais.




Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Liturgia: A origem das Basílicas




As primeiras igrejas edificadas pelos cristãos e denominada Basílicas derivam de casas romanas e da basílica civil. Da casa romana imitam o atrium. Com efeito, eram precedidas de um pátio ou pórtico. Da basílica civil, adotavam a forma retangular, o telhado alto e as vasta dimensões. Mas o que diferencia da Basílica civil a basílica cristã, é que esta é recortada por naves paralelas, constituídas mediante pórticos interiores, enquanto aquela é uma simples sala retangular. As basílicas cristãs eram divididas em três partes principais: Vestíbulo, nave e abside.



A). Vestíbulo: A primeira parte da igreja era chamada de vestíbulo, pórtico ou narlex. O narlex exterior era destinado a separar a igreja do tumulto das movimentadas ruas de Roma. Servia de parada, para a primeira classe de penitentes, chamados "lugentes " ou "plangentes. No centro do pórtico ficava um reservatório baixo, com água, onde os fiéis limpavam as mãos e o rosto, antes de entrar no templo. O nartex interior era a parada da segunda classe de penitentes, chamados de ouvintes.



B). Nave: Do pórtico, três entradas permitiam o ingresso no interior da igreja: a do meio era destinada aos clérigos; as portas laterais eram para o povo, homens a direita e mulheres a esquerda.



C). Abside: Esta terceira parte chamava-se santuário, lugar sagrado, onde se realizava o divino sacrifício. Em redor do abside, ficava os assentos para os sacerdotes, e ao fundo o trono do bispo, que era no mais degrau mais elevado. Sentado neste trono, o bispo que presidia, via por cima do altar e dominava a assembléia. No centro da abside estava o altar encimado pelo ciborium. Dos dois lados do santuário, ou de um lado só, colocavam-se armários de madeira, mais ou menos artísticos, utilizados para guardar os objetos, paramentos sacerdotais, e as vezes até a Santíssima Eucaristia.




(Obs: No momento estamos sem a fontes bibliográficas, mas já estamos providenciando e em breve estará publicada no blog. Obrigado)

domingo, 26 de agosto de 2007

13º Domingo depois de Pentecostes: "Levanta-te, vai; a tua fé te salvou" (Ev)

Toda missa de hoje anda precisamente sobre um ponto, e procura a excitar a nossa fé em Jesus Cristo, o único que nos poderá arrancar desta miséria em que vivemos. Já no antigo testamento, dizia São Paulo que era a fé em Jesus Cristo que o salvara. Existia a lei, é verdade, era por si impotente para resgatar o gênero humano e o próprio Abraão fora salvo pela fé. O Evangelho vem nos dizer o mesmo, quando o se lê que o Senhor curou dez leprosos e somente um voltou para lhe render graças. Os outros que não as deram foram rejeitados. Já o que voltou para agradecer o Senhor fora acolhido na Igreja de Cristo. Assim o Judeus por seu orgulho perderam também o reino que os profetas lhes anunciaram e o Filho de Deus lhes veio abrir. Pelo contrário, nós todos, descendentes dos gentios, dissemos a Jesus que colocamos nele toda a nossa esperança e que ele nos salvaria e alentaria com maná do seu corpo santíssimo até chegarmos à pátria que antevemos para além do deserto desta vida terrena.

Evangelho de Domingo:


Continuação do Santo Evangelho segundo São Lucas. Naquele tempo: Sucedeu que, indo (Jesus) para Jerusalém, passava por meio da Samaria e da Galiléia. E, ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro de dez leprosos, que pararam ao longe; e levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós! Tendo-os ele visto, disse-lhes: Ide, mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, enquanto iam, ficaram limpos, um voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz; e prostrou-se por terra a seus pés, dando-lhe graças; e este era samaritano. E Jesus disse: Não são dez os que foram curados? E os outros noves onde estão? Não se encontrou quem voltasse, e desse glória a Deus, senão este estrangeiro. E disse para ele: Levanta-te, vai; a tua fé te salvou.


Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

sábado, 25 de agosto de 2007

25 de Agosto, São Luís Rei de França

Nasceu em 1215 e subiu ao trono muito novo, ainda com 12 anos de idade. Recebeu educação esmeradíssima de sua mãe, a Rainha Branca de Castela, que lhe repetia com freqüência que devia preferir a morrer do que cometer um pecado mortal. Gostava de se chamar Luís de Poissy, do nome do lugar onde recebera o batismo, para indicar com isto que tinha em maior apreço o título de cristão do que todos os outros de glória terrena. "Foi o rei mais santo e mais justo, diz Bossuet, que jamais cingiu a coroa". Era assíduo nos ofícios divinos que mandava celebrar solenemente no seu palácio e ouvia todos os dias duas missas. Levantava-se à meia-noite para Matinas e começava as tarefas do dia pelo ofício de prima. Introduziu na sua capela o costume de genuflectir às palavras do Credo Et homo factus est, e, na Paixão, onde se lê que Jesus expirou, o costume de se ajoelhar e ficar em silêncio e que depois fora adotado por toda a Igreja Universal. "Ouvindo dizer que os nobres o censuravam por assistir a tantas Missas e sermões, respondeu que se dispense dobrado tempo no jogo dos dados e da caça pelas florestas, nada haveriam de repreender". A sua piedade não o impediam no entanto de administrar os negócios do Estado na maior parte de seu tempo. Havendo adoecido gravemente, fez voto de empreender uma nova cruzada para conquistar Jerusalém. Vitorioso a princípio, caiu nas mãos dos sarracenos. Restituído a liberdade, demorou-se ainda quatro anos no Oriente para socorrer os cristãos. Depois de regressar a França, fundou numerosos mosteiros e mandou construir a Santa Capela, relicário insigne da Santa Coroa de Espinhos de Cristo e de parte da importante relíquia da Santa Cruz que Balduíno II de Constantinopla lhe oferecera. Muito austero consigo e de grande caridade com os outros, costumava a dizer, "que mais vale que um rei se arruíne por dar esmolas por amor de Deus que fastos e vãs glórias". " Muitas vezes, diz Joinville, ia no verão depois da missa para o bosque de Vincennes, sentava-se debaixo de um carvalho e mandava-nos sentar a volta. E todos os que tinham negócio a tratar, vinham falar-lhe ali". Trazia sempre consigo a Cruz para indicar que ainda não cumprira o voto de reconquistar Jerusalém. Organizou pois uma segunda cruzada, mas a peste dizimou-lhe o exército inteiro e não o poupou. De braços cruzados e debaixo de cinzas, entregou a alma a Deus a 25 de Agosto de 1270, à hora em que o Senhor expirou na Cruz. Na véspera da morte, ouviram-no repetir: "iremos a Jerusalém". Era com efeito na Jerusalém celeste, que conquistou com sua paciência no meio das adversidades, que ia agora reinar para sempre com o Rei dos reis.


Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Teologia Ascética e Mística: Luta contra as tentações



A despeito de todos os esforços que fizemos para desarreigar os vícios, podemos e devemos contar com a tentação, porque não nos faltam inimigos espirituais, a concupiscência, o mundo e o demônio, que não nos cessam de armar ciladas. É, pois, necessário tratar da tentação, tanto da tentação em geral, tanto das tentações principais dos principiantes.




A tentação é uma solicitação para o mal, proveniente dos nossos inimigos espirituais. Exporemos: 1º Os fins providenciais da tentação; 2º a pscicologia da tentação; 3º a maneira como nos devemos portar na tentação.



Deus não nos tenta diretamente: "Ninguém, quando é tentado, diga: é deus que me tenta; porque deus não pode ser tentado por mal algum, e ele próprio a ninguém tenta". Mas permite que sejamos tentados pelos nossos inimigos espirituais, dando-nos contudo as graças necessárias para resistir: " Fidelis Deus qui non patietur vos tentari supra id quod potestis, sed feciet etiam cum tentatione proventum"(ICor 10,13). E tem para isso excelentes razões.



Quer-nos fazer merecer o Céu. Teria podido certamente conceder-nos o Céu como o dom; mas quis sabiamente que o merecêssemos como uma recompensa. Quer até que o prêmio seja proporcionado ao mérito, por conseguinte, à dificuldade vencida. Ora, é indubitável que umas das dificuldades mais penosas é a tentação, que põe em risco a nossa frágil virtude. Combatê-la energicamente é um dos atos mais meritórios; e, depois de, com a graça de Deus, havemos dela triunfado, podemos dizer como São Paulo que combatemos o bom combate e que só nos resta receber a coroa da justiça que Deus nos preparou. Será tanto maior a honra e a alegria em possuir, quanto mais tivermos feito para merecer.



É, além disso, um meio de purificação. 1) Vem, efetivamente, recordar-nos que, se outrora sucumbimos, foi por falta de vigilância e energia, e assim é para nós ocasião de renovar atos de arrependimento, confusão e humilhação, que contribuem para nos purificar a alma. 2) Obriga-nos, ao mesmo tempo, a fazer esforços enérgicos e constantes, para não recairmos; e assim nos faz expiar as covardias e capitulações passadas, com atos contrários; ora tudo isto nos torna mais pura a alma. Eis o motivo por que, quando Deus quer purificar mais perfeitamente uma alma, para a elevar à contemplação, permite que ela passe por horríveis tentações, como veremos, ao tratar da via unitiva.



É, enfim, um meio de progresso espiritual. a) A tentação é como uma azorragada, que nos desperta no momento em que íamos a cair no sono da tibieza; faz-nos a compreender a necessidade de não parar a meia encosta, senão de por a mira mais alto, para se esconjurar mais seguramente qualquer perigo. b) É também escola de humildade e desconfiança de nós mesmo: compreender-se, então, melhor a própria fraqueza e impotência, sente-se mais a necessidade da graça e ora-se com mais fervor. Vê-se melhor a urgência impreterível de modificar o amor ao prazer, fonte das nossas tentações, e abraçam-se com mais generosidade as pequenas cruzes de cada dia, para se amortecer o ardor da concupiscência. c) É, enfim, escola de amor de Deus. É que, para resistir com mais segurança, lança-se o homem nos braços de Deus, me busca de força e proteção; e depois, os auxílios que ele concede não podem deixar de excitar na alma um vivo reconhecimento e de o levar a haver-se com Deus como um filho que em todas as dificuldades recorre ao mais amante dos pais.



Há, pois, na tentação numerosas utilidades, e é por isso que Deus permite que os seus amigos sejam tentados: "porque eras aceito a Deus, diz o anjo Tobias, foi necessário que a tentação te provasse: quia acceptus eras Deo, necesse fuit ut tentatio probaret te"(Tob 12,13).

(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da imprensa - 1961)

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Imaculado Coração de Nossa Senhora



Depois de ter em plena guerra consagrado o gênero humano ao imaculado coração de Maria para o colocar por esse modo por debaixo da particular proteção da Mãe do Salvador, S. Santidade Pio XII decretou que em 1944 que todos os anos se celebrasse doravante na Igreja inteira uma festa especial em honra de Coração Imaculado no dia 22 de Agosto. É já antiga a devoção ao Coração Imaculado de Nossa Senhora. No século XVII propagou-a muito São João Eudes juntamente com a do Sagrado Coração de jesus. No século XIX o Papa Pio VII e Pio IX concederam as várias Igrejas particulares uma festa "do Coração Puríssimo de Maria", fixada primeiramente no domingo depois da Assunção e mais tarde no sábado que se segue a festa do Sagrado Coração. Pio XII transferiu-a para 22 de Agosto e designou como principal intenção pedir, por intercessão da Santíssima Virgem, a "paz para os povos, a liberdade da Igreja, a conversão dos pecadores, o amor da pureza, e prática da virtude" (decreto de 4 de maio de 1944).





Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.


terça-feira, 21 de agosto de 2007

Catecismo Online: "E em Jesus Cristo, seu unico filho, Nosso Senhor."(Parte II)


Jesus é o nome próprio daquele que é Deus e homem ao mesmo tempo. Significa "Salvador". Não lhe foi posto casualmente, ou por escolha e vontade dos homens, mas por ordem e intenção de Deus.

Assim o declarou o arcanjo São Gabriel a Virgem: "Eis que conceberás e em teu seio, e darás a luz a um filho, ao qual porás o nome de Jesus" (Lc 1,31). E depois ordenou a José, esposo da Virgem, desse tal nome ao menino, e indicou-lhe ao mesmo tempo as razões por que devia chamar-se assim: "José, filho de David, não tenhas receio de levar para tua casa Maria, tua esposa; pois o que nela foi concebido, é obra do Espírito Santo. Portanto, ela há de dar a luz a um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele há de remir o seu povo de seus pecados"(Mt 1,20-21).


Verdade é que, nas escrituras, nos deparamos com muitas pessoas que tem esse mesmo nome. Assim se chamava o filho de Navé que sucedeu a Moisés; teve o privilégio, negado a seu antecessor, de levar à Terra de Promissão o povo que o mesmo Moisés havia de arrancado do cativeiro do Egito. Assim se chamava o filho de Josedec, sumo-sacerdote.

A nosso ver, com quanto mais acerto se não deve atribuir a esse nome a Nosso Salvador! A ele que deu luzes, liberdade e salvação, já não a um povo singular, mas a todos os homens de todas as épocas, não oprimidos pela fome ou pelo julgo do Egito e da Babilônia, mas sentados nas sombras da morte, presos com os duríssimos grilhões do pecado e do demônio. A ele que lhes adquiriu o direito e a herança do Reino dos Céus, e os reconciliou com o Pai Eterno.


Naquelas pessoas não vemos senão uma figura de Cristo Nosso Senhor, que tantos benefícios cumularam o gênero humano, como acabamos de explicar.


Ao nome de Jesus também se acrescentou o apelido de "Cristo", cuja significação é "Ungido". Serve para designar uma dignidade e um mistério. Não é próprio de uma só categoria, mas é designação comum de várias funções.



Na antiguidade, nossos pais chamavam de "cristos" aos sacerdotes e aos reis, por quanto Deus ordenara que fossem ungidos, em atenção a dignidade de seu ministério.


Sacerdotes são aqueles que, por meio de assíduas preces, recomendam o povo a Deus. São os que oferecem sacrifícios a Deus, e aplicam pelo povo o poder de sua intercessão (Num 16,46-50; Sap 18,20-25; Heb 5,1-4).


Aos reis porém, está confiado o governo dos povos. Seu dever primordial é salvaguardar a autoridade das leis, proteger a vida dos inocentes, e punir a audácia dos criminosos.


Ambos os ministérios são, pois, uma imagem da majestade de Deus aqui na terra. Por isso, os que eram eleitos para a dignidade real ou sacerdotal recebiam a unção dos santos óleos (I Reg 10,1;16,13; Exo 19,21;30,30).


Era também costume de ungir os profetas. Na qualidade de intérpretes e mensageiros de Deus Imortal, revelam os segredos dos Céus e com salutares conselhos e predições do futuro exortavam à regeneração dos costumes.


Ora, quando veio a este mundo, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo tomou sobre si o tríplice encargo e função de profeta, de sacerdote e de rei. Por esse motivo foi chamado "Cristo", e ungido para o desempenho daqueles ministérios.


Jesus Cristo portanto foi o Profeta e mestre supremo que nos ensinou a vontade de Deus, e cuja doutrina fez ao mundo conhecer o Pai celestial. Cabe-lhe o nome de profeta com a maior glória e distinção.

Cristo também é sacerdote, não pela ordem pela qual a Antiga Lei os sacerdotes proviam da tribo de Levi. Mas por aquela que o profeta David exaltou em seu vaticínio: "Vós sois sacerdotes eternamente, segundo a ordem do rei Melquisedec"(Ps 109,4; Heb 5,5 ss).

Reconhecemos, igualmente, que Cristo é Rei, não só como Deus, mas também enquanto homem, participante de nossa natureza. De sua dignidade real disse o anjo: "Há de reinar eternamente na casa de Jacob, e seu reino não terá fim." (Lc 1,32).




(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - Ed. Vozes - 1962)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Liturgia: Arte Religiosa nas Catacumbas

As numerosas inscrições, pinturas e esculturas que se encontraram nas catacumbas, apresentam o maior interesse para a Apologética e a Teologia Dogmática. Traduzem, com efeito, ainda que de modo obscuro e enigmático, a fé da primitiva Igreja. Obscuro e enigmático, sim, porque reinam em toda a parte, nas produções dos primeiros séculos, a alegoria e o simbolismo. Exigia-o a disciplina do Arcano¹ que a Igreja tinha sido estabelecido como lei, para arredar os perigos que a salteavam, de contínuo, no mundo pagão. Esta atmosfera misteriosa é manifesta em qualquer monumento primitivo da religião católica. Nada se vê, em parte alguma, capaz de revelar aos olhares dos profanos os segredos das coisas santas.

As inscrições apresentam geralmente a maior singeleza, em contrastes com as legendas pagãs. Muitas vezes, só o nome do falecido ou a idade, a data da morte. E, mais raro, o nome, breve invocação: "Vivas in Deo, in Christo, in Pace, cum sanctis; Viva (descansa) em Deus, em Cristo, em paz, com todos os santos". Alguns dizeres vê-se que traduzem a crença dos primeiros cristãos num só deus, na divindade de Nosso Senhor e do Espírito Santo; Outros lembram os sacramentos do batismo e do Crisma. "Fidem accepit, recebeu a fé"; e "Signatus numere Cristi, está marcado com o dom de Cristo".

As pinturas nas paredes e abobadas das criptas, como também dos cubículos, estão miúdo cobertas de estuque e adornadas de numerosos painéis. Nosso Senhor, freqüentemente, é representado na figura alegórica do Bom pastor, simbolizando a dedicação e a caridade, e na do cordeiro que recorda a sua imolação na Cruz. Encontra-se também pinturas de assuntos bíblicos: Noé na Arca, o sacrifício de Abraão, considerado tipo de Holocausto sangrento no Calvário e do holocausto incruento da missa. Mas as pinturas mais estimadas, são as que tratam dos sacramentos; por exemplo a eucaristia aparece figurada por um peixe², que leva no dorso pão e vinho; o sacramento da penitência pela imposição das mãos etc.

As esculturas, avultam igualmente, nos cemitérios dos primeiros cristãos. Muitas vezes nos sarcófagos estão cobertos, na face anterior e nos dois lados, com baixo-relevo. O assunto religioso mais aproveitado ali são pessoas na atitude da prece. Noé na arca, Daniel entre os leões, Jesus mudando a água em vinho, o Bom Pastor... Muitas vezes, aparecem emblemas esculpidos nos túmulos: ora uma pomba, simbolizando a inocência, ou o martírio e a ressurreição; ora uma âncora significando esperança; ora uma palma, lembrando o triunfo.

A legislação romana declarava sagrados e invioláveis os túmulos, quem quer que fosse o dono deles, ou a religião a que pertencesse. Daí resultaram duas coisas: 1º) Não havia para os cristãos, em tempos de perseguição, refugio melhor que os cemitérios; 2º) Os ricos convertidos, consideravam obra de caridade a oferta dos próprios domínios funerários a seus irmãos de crença.
No princípio, nos cemitérios onde se acolhem os cristãos, fugindo dos seus algozes, são propriedades particulares. Porém aos poucos, tornando-se muito numerosas as sepulturas, para ficarem na posse de uma família, esta dava a Igreja os tais campos funerários. Desta forma, no século III, parte dos cemitérios pertencia à Igreja e eram por ela administrados. Infelizmente, o direito da Igreja foi desrespeitado pelo edito de perseguição de valeriano. Seqüestrou os cemitérios e proibiu, sob pena de morte, o ingresso neles. Depois de muitas alternativas de sossego e de borrascas, a Igreja recuperou os bens que Diocleciano lhe tinha confiscado e pode assim gozar da liberdade, com o Imperador Constantino Magno. Um edito de 312 autorizou os cristãos a celebrar as assembléias e se quisessem e a construir templos. Outro edito, em 313, promulgado em Milão, equiparava no aspeto legal, o cristianismo a seus cultos. A partir deste dia, é que os lugares de culto passaram a ser as basílicas. Assunto este que abordaremos na próxima semana falaremos sobre a origem das basílicas.


(1) Disciplina do Arcano ou Sigilo - A Igreja dos primórdios trazia viva, na mente, a exortação do mestre: "Não deitei as coisas santas aos cães"(Mat 7, 6). Impôs a regra a ocultar os dogmas da fé e as cerimônias do culto, aos que não houvessem aderido a ela pelo batismo. Eram simples cautela contra pagãos idólatras, que teriam mofado de uma religião que não compreendiam, e contra os catecúmenos, de fé ainda fraca, que talvez achassem nisso um obstáculo. Era afim de também não provocar perseguições. A disciplina do Arcano abrangia principalmente os mistérios, nomeadamente o da Santíssima Trindade, assim como os ritos e as doutrinas dos sacramentos. Vigorou esta disciplina até o século VI; portanto, ainda muito depois do triunfo do cristianismo.
(2) O peixe é o símbolo secreto do cristo, porque a palavra peixe (em grego), é formada pelas iniciais dos vocábulos: Iesou Christos Theou Uios Soter (Jesus cristo, filho do Deus, Salvador).


domingo, 19 de agosto de 2007

12º Domingo Depois de Pentecostes

O Evangelho deste Domingo é o do bom samaritano. O Senhor revela-nos nele simultaneamente a lei que deve presidir a nova sociedade que vai fundar e a finalidade e necessidade da incarnação do Verbo. O homem, com efeito, depois do pecado original era um viajante que os ladrões tinham roubado e deixado quase morto a beira da estrada. Vieram os sacerdotes, os ministros do velho testamento, viram-no e foram adiantes impotentes para resgatar o gênero humano. Foi preciso que viesse o Salvador, o bom samaritano, "que se aproximou de nós, diz São Beda, fazendo-se homem e dobrando-se sobre a miséria a que tínhamos chegado, derramou nas nossas chagas o azeite e o vinho que são os sacramentos regeneradores da nossa alma. A hospedaria onde nos levou é sua Igreja. Aí nos cura e nos fortalece com o azeite dos Sacramentos e com o pão e o vinho da Eucaristia para continuarmos até o Céu a grande viagem que empreendemos". O que o Senhor fez conosco e o que nos recomendou uma parábola do bom samaritano devemos praticá-lo sempre com todos os homens. É precisamente aqui que reside a nossa grandeza. Tornando-mos, por assim dizer, como Deus que fez chover sobre o justo e o injusto. O amor ao próximo, com efeito, possui qualquer coisa de divino. É sobrenatural na origem, porque procede do Espírito Santo; é sobrenatural no objeto, porque se dirige a Deus na pessoa de nossos irmãos. Amemos pois, e amenos todos os homens. Lancemos, nós que nos dizemos filhos da Igreja e discípulos de Cristo, lancemos contra a onda subversiva de ódio que incendeia o mundo o ataque da caridade de Cristo, porque, pensemos bem, só com esta arma poderemos vencer.





Evangelho de Domingo:




Continuação do Santo Evangelho segundo São Lucas. Naquele tempo: Disse Jesus a seus discípulos: ditosos os olhos que vêem o que vós vedes. Porque eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não viram; e ouvir o que vós ouvis, e não ouviram. E eis que se levantou um certo doutor da lei, e lhe disse para o tentar: Mestre, que devo eu fazer para possuir a vida eterna? Jesus disse-lhe: O que é que está escrito na lei? Como lês tu? Ele respondendo disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, e com todas as tuas forças, e com todo o teu entendimento, e o teu próximo como a ti mesmo. E Jesus disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás (eternamente). Mas ele, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é meu próximo? E Jesus retomando a palavra, disse: Um homem descia de Jerusalém para Jericó, e caiu na mão dos ladrões, que o despojaram (do que levava); e, tendo-o maltratado, retiraram-se, deixando-o meio morto. Ora aconteceu que passava pelo mesmo caminho um sacerdote, o qual, quando o viu, passou de largo. Igualmente um levita, chegando perto daquele lugar, e, vendo-o, passou adiante. Mas um samaritano, que ia seu caminho, chegou perto dele; e, quando o viu, moveu-se de compaixão. E, aproximando-se ligou-lhe as feridas, lançando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o a uma estalagem, e teve cuidado dele. E no dia seguinte tirou dois dinheiros, e deu-os ao estalajadeiro, e disse-lhe: Tem cuidado dele, e quanto gastares a mais, to satisfarei quando voltar. Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Ele respondeu: O que usou de misericórdia. Então Jesus disse-lhe: Vai, e faze tu o mesmo.

Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Teologia Ascética e Mística: A Avareza

A avareza está em conexão com a concupiscência dos olhos, de que já falamos. Exportaremos a sua natureza, a sua malícia e os seus remédios.



A avareza é o amor desordenado dos bens da terra. Para mostrar onde se encontra a desordem da avareza, importa recordar, primeiro, o fim para que Deus deu ao homem os bens temporais.




O fim que Deus se propôs, é duplo: a nossa utilidade pessoal e a dos nossos irmãos. Os bens da terra são-nos concedidos para ocorrerem às necessidades temporais do homem, tanto da alma como do corpo, para conservarem a nossa vida e a dos que dependem de nós, e para nos darem meios de cultivarmos a inteligência e demais faculdades.




A avareza é um sinal de desconfiança de Deus, que prometeu velar sobre nós com paternal solicitude, não nos deixando jamais faltar no necessário, contanto que tenhamos confiança nele. Convida-nos a olhar para as aves do céu, que não trabalham nem fiam, não certamente para nos incitar à preguiça, senão para acalmar as nossas preocupações e nos estimular à confiança em nosso Pai Celestial. Ora o avarento, em lugar de por a sua confiança em Deus, coloca-a na multidão das suas riquezas e faz injúria a Deus, desconfiando dele: "Ecce homo qui non posuit Deum adiutorem suum, sed speravit in multitudine divitiarum suarum et praevaluit in vanitate sua"(Sl 51,9). Esta desconfiança é acompanhada de excessiva confiança em si mesmo, na sua atividade pessoal, e assim caindo numa espécie de idolatria em que ele faz do dinheiro o próprio Deus. Ora, ninguém pode servir ao mesmo tempo dois senhores, a Deus e ao dinheiro: "non postesti Deo servire et mummonae"(Mt 6,24).




É paixão que tende a suplantar a Deus em nosso coração: este coração, que é templo de Deus, é invadido por toda sorte de desejos inflamados das coisas da terra, de inquietações, de preocupações absorventes. Ora, para nos unirmos a Deus é mister desprender o coração de qualquer criatura ou preocupação terrena; porque Deus quer "todo o espírito, todo o coração, todo o tempo e todas as forças de suas próprias criaturas". É sobretudo necessário esvaziá-lo do orgulho; ora o apego das riquezas desenvolve esse orgulho, porque o homem tem mais confiança nos bens terrenos do que em Deus.




Deixar prender o coração ao dinheiro é, pois, levantar um obstáculo ao amor de Deus; porque onde está o nosso tesouro lá está também o nosso coração: "ubi thesaurus vester, ibi et cor vestrum erit". Desprendê-lo é abrir a Deus a porta do coração: uma alma despojada dos bens da terra é rica do próprio Deus: toto Deo dives est.




O melhor remédio é a convicção profunda, fundada na razão e na fé, que as riquezas não são fim, senão meios que nos dá a Providência, para acudirmos às nossas necessidades e às dos nossos irmãos; que Deus nunca deixa de ser o soberano Senhor delas; que nós, a bem dizer, não passamos de meros administradores, e que um dia haveremos de dar contas delas ao Juiz Supremo. E depois, são bens que passam, que não levaremos conosco para a outra vida, onde não corre essa moeda; se somos prudentes, para o Céu e não para a terra é que trataremos de capitalizar: "Não queirais entesoirar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os destroem e os ladrões os desenterram e furtam. Entesoirai antes para vós tesouros no Céu, onde nem a ferrugem nem a traça os destroem e onde os ladrões não os desenterram, e nem furtam"(Mt 6,19-20).




E assim, a luta contra estes setes pecados capitais acaba de desarreigar em nós as tendências, para nos exercitarem na paciência e despertarem o sentimento da desconfiança em nós mesmos; serão, porém, muito menos perigosa, e apoiados na graça de Deus, mais facilmente delas triunfaremos. Apesar de todos os nossos esforços, elevar-se-ão ainda com certeza tentações em nossa alma, que a Providência divina permitirá, para nos dar ocasião de novas vitórias.




(fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961)

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

15 DE AGOSTO, SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA SANTÍSSIMA VIRGEM


O Senhor só esteve três dias no sepulcro, logo ressuscitou e subiu aos Céus. A morte da Senhora mais parece como um sono breve. E é por isso que chamamos de "dormitio" dormição. Antes de a corrupção lhe poder tocar o corpo imaculado, Deus a ressuscitou-a e glorificou-a nos Céus. A dormição, ressurreição e assunção da Virgem Santíssima o tríplice objeto da festa de hoje. Não tendo o pecado penetrado nunca na sua alma puríssima, era conveniente que o seu corpo, isento de toda mancha e do qual o Verbo se dignou incarnar, não chegasse a sofrer a corrupção do túmulo.

A 1º de novembro de 1950, o Santo Padre Pio XII definiu o dogma da Assunção da Santíssima Virgem Maria. Proclamava assim solenemente que a crença segundo a qual Maria, ao fim da sua vida terrestre, foi leva em corpo e alma a glória do Céu, faz realmente parte do depósito da fé, recebido dos Apóstolos. "Bendita entre todas as mulheres", em razão de sua maternidade divina, a Virgem Imaculada, que desde a sua conceição tivera o privilégio de ser isenta do pecado original, não devia conhecer a corrupção do túmulo.



Para evitar qualquer dado impreciso, o Papa absteve-se inteiramente de determinar o modo e as circunstâncias de tempo e lugar em que a Assunção deveria ter-se realizado: somente o fato da Assunção, em corpo e alma, à glória ao Céu, constitue objeto da definição.

Na liturgia encontra-se o culto da Assunção desde o século VI no Oriente. Em Jerusalém, comportava uma procissão ao túmulo da Virgem. Esta procissão estendeu-se a Constantinopla. Em Roma, do século VII ao XVI constituía uma das "procissões ladainhas" e tinha lugar na basílica de Santa Maria Maior.




Evangelho do dia:


Continuação do Santo Evangelho de São Lucas. Naquele tempo: Isabel foi cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: Bandita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre. E de onde me vem a dita de que venha até a mim a mãe do meu Senhor? Eis que, logo que me soou aos ouvidos a voz da tua saudação, exultou de alegria o menino no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditaste; porque se cumprirão em ti as coisas que te foram ditas da parte do Senhor. Então Maria disse: A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se exulta em Deus meu Salvador. Porque olhou para a humildade de sua serva, eis que por isso me proclamarão bem-aventurada todas as gerações. Porque fez em mim grandes coisas o Onipotente, e santo é seu nome. E a sua misericórdia se estende de geração e geração sobre todos os que o temem.



Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A perseguição à Igreja Católica na China Comunista

Esse vídeo que encontrei na internet nos dá uma noção de como é dura a vida dos cristãos católicos na China comunista, que, daqui a um ano irá celebrar os jogos olímpicos de Pequim. Não somente, dos católicos mas a vida de muitos outros na China tem sido dura e cheia de represálias. A maravilhosa imagem que tem se passado da China nos últimos anos, com o avanço tecnológico e industrial, tenta de certa forma esconder a dura realidade que se esconde atrás do "mito do progresso". A mídia que está dando apoio ao grande evento de 2008 (já que só se importa em divulgar o que lhes convém), esconde também muitas verdades obscuras de um país em que só se importa com o material e despreza a vida, o humano e o espiritual.

Catecismo Online: "E em Jesus Cristo, seu unico filho, Nosso Senhor."

Em crer e professar o seguinte artigo, encontra o gênero humano imensas e admiráveis vantagens, consoante o testemunho de São João: "Quem confessa que Jesus Cristo é o filho de Deus, Deus permanece nele, e ele permanece em Deus".
Prova-o também a palavra de Cristo Nosso Senhor, quando proclamava a bem-aventurança dos príncipe dos Apóstolos: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, pois não foi a carne e nem o sangue que te revelou, mas antes meu Pai que está nos Céus"(Mt 16,17).


Os admiráveis frutos deste artigo aparecem com maior evidência, se considerarmos como se destruiu o venturoso estado em que Deus colocara os primeiros homens.

Adão apartou-se da obediência devida a Deus, quando violou a proibição: "De todas as árvores do paraíso poderás comer, mas não coma da árvore da ciência do bem e do mal. No dia que dela comeres, morrerás."(Gên 2,16-17).

Ele caiu logo no maior dos infortúnios, perdendo a santidade e a justiça em que fora constituído, ficando sujeito a outros males, conforme ensina mais longamente o Santo Concílio de Trento.

Uma vez decaído de tão alta dignidade, nada podia erguer o gênero humano a reintegrá-lo no estado primitivo, nem as forças humanas, nem as forças angélicas.

Em vista de tal ruína e desgraça, não restava, pois, outro remédio, senão o infinito poder com que o Filho de Deus, assumindo a fraqueza da nossa carne, devia destruir a infinita malícia do pecado, e pelo seu sangue reconciliar-nos com Deus.

Ora, crer na redenção e professá-la, sempre foram condições necessárias para a salvação dos homens. Assim Deus o ensinou, desde o início da revelação.

No mesmo instante que condenava o gênero humano, imediatamente após o pecado, Deus fez nascer a esperança de resgate, pelas palavra com que anunciou ao demônio a dura derrota que lhe resultaria da libertação dos homens: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua raça e sua descendência. Esmagará ela a tua cabeça, e tu lhe ferirás traições ao seu calcanhar"(Gên 3,15).

Dali em diante, Deus confirmou por muitas vezes a sua promessa. Fez revelações mais positivas a seus desígnios, mormente aqueles varões, com os quais queria usar de uma benevolência toda particular. Entre outros, o patriarca Abraão recebeu freqüentes indicações a respeito deste mistério. Na hora, porém, em que ia imolar Isaac, seu único filho, por obediência a Deus, Abraão veio a ter revelações mais explícitas.

Deus, com efeito, lhe dissera: "Porque assim procedeste, a ponto de não poupar teu único filho, Eu te abençoarei, e multiplicarei tua descendência, como as estrelas do céu, e como a areia que jaz nas praias do mar. Tua geração possuirá as portas de teus inimigos, e em tua raça serão abençoados todos os povos da terra, porque obedeceste a minha voz"(Gên 22,16-17).

Pouco tempo depois, para que se conservasse a recordação da promessa, o Senhor reafirmou a mesma aliança com Jacob, neto de Abraão.

Durante o sono, viu ele uma escada firmada na terra, mas com a ponta a tocar o céu; e viu também os anjos de Deus que por ela subiam e desciam, como afirma a Escritura. Jacob ouviu ao mesmo tempo a voz do Senhor que, apoiado na escada, lhe dizia: "Eu sou o Senhor, Deus de teu pai Abraão, e Deus de Isaac. Dar-te-ei, a ti e à tua posteridade, a terra em que estás dormindo. E a tua geração será como o pó da terra. Hás de estender-te para o Oriente e o Ocidente, para o Sententrião e o Meio-dia. Em ti e na tua geração serão abençoadas todas as tribos da terra"(Gên 28,12-14).

Os profetas, cujo espírito era aclarado por uma luz celestial, falavam diante do povo, e anunciavam-lhe o nascimento do filho de Deus, as obras admiráveis que havia de praticar depois de nascido, sua doutrina, seus costumes, seu trato, sua morte e ressurreição, e os outros mistérios.¹

Falavam com tanta clareza de todos estes fatos, como se os tivessem presentes à própria vista. Se, pois, abstrairmos da distância que medeia entre o passado e o futuro, já não podemos notar nenhuma diferença entre os oráculos dos profetas e a pregação dos Apóstolos, entre a fé dos antigos patriarcas e a nossa própria fé atual.

1. Por exemplo, Isaias (7,44; 8,3; 9,6; 11,13), Jeremias (23,5; 30,9), Daniel (7,13; 9,24), e outros.

(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - Ed. Vozes - 1962)

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Liturgia: Lugares de culto nos primórdios do Cristianismo

Em todos os tempos e em todas as religiões, houve lugares santos ou santuários, especialmente consagrados ao culto da divindade. Os judeus, adoradores do verdadeiro Deus, reuniam-se nas sinagogas para orar. Contudo, é certo que apenas possuíam apenas um templo, em Jerusalém, no qual lhes era lícito oferecer sacrifícios.

Os lugares de culto para os primeiros cristãos foram quase que exclusivamente: casas particulares e as catacumbas.

As casas particulares: Os discípulos de Nosso Senhor, que começaram a estabelecer comunidades, quer em Jerusalém, quer nas outras cidades da Ásia Menor, procuravam a princípio o templo e as sinagogas, a fim de praticarem os novos ritos ensinados por Jesus aos Apóstolos. Porém, passado pouco tempo, repeliram-nos os seus conterrâneos que não comungavam na mesma fé, não simpatizavam com as doutrinas do mestre. Então tiveram de se acolher a casas particulares, para celebrar a liturgia. Aliás, era este mesmo exemplo que deixara a Igreja nascente.

Estavam todos juntos, numa sala chamada cenáculo, no primeiro andar de uma casa, esperando em orações a vinda do Espírito Santo.
Quando o cristianismo, já crescido e forte, se espalha no Ocidente, a casa romana passou a ser o recinto próprio para as assembléias. A entrada dava para a via pública. Logo, apresentava o atrium ou pátio cercado de pórticos. Depois, uma sala de banhos, cômodos para morada e numerosos recintos. Assim, nada faltava para a prática dos exercícios do culto. Por isso veio a ser a "domus ecclesiae", a casa de Igreja, isto é, o lugar onde se ajuntavam os fiéis, que formavam a Igreja desses sítios, a fim de celebrarem os santos mistérios.

Mas, no tempo em que se iniciaram as perseguições violentas, a casa particular deixou e ser asilo seguro para os cristãos. Para evitar perseguições dos seus inimigos, tiveram de procurar recônditos menos conhecidos ou que a legislação vigente aceitasse e protegesse, onde se pudesse exercer o culto. Estes novos lugares do culto foram os cemitérios que depois passaram a se chamar Catacumbas.

As Catacumbas: Catacumbas são cemitérios subterrâneos que os primeiros cristãos aproveitaram para enterrar os mortos, para se refugiarem em épocas de perseguição a para praticarem as cerimônias de culto.

Os cemitérios da Roma subterrânea eram designados, quase sempre, pelo nome da pessoa abastada que tinha ofertado aos fiéis o terreno: cemitério de Priscília, de Domitília, de Pretextato. Consistiam num sistema de galerias muitos estreitas (de 0,80m à 1,5m) e sobrepostas, formando assim, por vezes, cinco andares, com escadas de comunicação. Nas paredes destas galerias, faziam-se escavações horizontais. Cada parede podia receber de três até doze túmulos, conforme a altura. As cavidades em que se depositavam os corpos, tinham o nome de "loculi".

Em determinados lugares, alargava-se a galeria: uma porta dava ingresso num quarto "cubiculum" que era um sepulcro de família. Ali também os corpos ficavam em lóculi ou, quando fosse de pessoas ricas ou ilustres, dentro de sarcófagos deitados no solo ou abrigados em nichos. Ainda acontecia que se escavassem, nos fundos de um cubículum, fossas verticais encimadas por nichos semicirculares: tais campas, fechadas por tábuas de mármore, tinham o nome de arcosolium devido à sua forma.

Nos cubícula é que os cristãos, obrigados a fugir da perseguição, se reuniam para orar. E era na mesa de um arco-sólio, encerrando os despojos de um e vários mártires, que se celebravam o santo Sacrifício.
Na próxima postagem iremos tratar do assunto: a arte nas catacumbas.