Seguem-se então as palavras: "para o fogo eterno". A esta segunda espécie de tormentos chamam os teólogos "pena dos sentidos"(Mt 25,41), porque empolga os sentidos do corpo, como acontece nos açoites, flagelações, e outros gêneros de suplícios mais pesados.
Entre eles, não é para duvidar que a tortura do fogo causa a mais intensa sensação de dor. Como tal suplício sobrevém para durar todo sempre, temos nesta circunstância uma prova de que o castigo dos réprobos concentra em si todos os suplícios possíveis.
Mostram-no, com maior clareza, as últimas palavras da condenação: "que foi preparado para o demônio e para os seus anjos"(Mt 25,41). Por índole nossa, sentimos menos todos os sofrimentos, quando temos algum parceiro a repartir conosco o infortúnio, e que até certo ponto nos assiste e conforta, com sua prudência e bondade. Qual não será, porém, a miséria dos condenados, uma vez que em tantas aflições não poderão jamais apartar-se da companhia dos mais perversos demônios?
Muito justa será, naturalmente, a condenação de Nosso Senhor e Salvador há de proferir contra os maus; porque vilipendiaram todas as obras de verdadeira piedade; não deram de comer, nem de beber, ao faminto e ao sequioso; não agasalharam o peregrino; não cobriram o desnu; não visitaram o preso e nem o enfermo.
São estes os pontos que os pastores devem, muitas vezes, inculcar aos ouvidos do povo cristão. Quando aceitam com espírito de fé, a verdade deste artigo tem grande virtude para refrear as depravações da alma, e arredar os homens do pecado. Por esse motivo diz o Eclesiástico: "Em todas as tuas obras, lembra-te de teus novíssimos, e não pecarás eternamente"(Eccl 7,40).
Na verdade, dificilmente alguém se arroja em pecados, com tanta cegueira, que não seja de novo atraído pelo amor à virtude, em se lembrando que um dia dará contas a um juiz de suma justiça, não só de todas as suas ações e palavras, mas até dos mais ocultos pensamentos; que terá de satisfazer pelas penas que merecidamente tiver incorrido.
Ainda que a vida lhe decorra em privações, calúnias e sofrimentos, pode o justo afervorar-se cada vez mais na prática da virtude, e dar larga a sua alegria, quando se lembra daquele dia em que, após as lutas desta vida laboriosa, será aclamado vencedor na presença de todos os homens, e recebido na Pátria Celestial, onde Deus lhe dará o quinhão das honras eternas.
Resta, pois, que os fiéis sejam exortados a procurarem uma santa maneira de viver, a adestrarem-se em todas as obras de piedade. Isto lhe permitirá aguardar, com maior firmeza de ânimo, o grande Dia do Senhor que está próximo; e almejar, até, a sua vinda com o mais vivo amor e empenho, como convém a filhos.
(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)
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