A avareza é o amor desordenado dos bens da terra. Para mostrar onde se encontra a desordem da avareza, importa recordar, primeiro, o fim para que Deus deu ao homem os bens temporais.
O fim que Deus se propôs, é duplo: a nossa utilidade pessoal e a dos nossos irmãos. Os bens da terra são-nos concedidos para ocorrerem às necessidades temporais do homem, tanto da alma como do corpo, para conservarem a nossa vida e a dos que dependem de nós, e para nos darem meios de cultivarmos a inteligência e demais faculdades.
A avareza é um sinal de desconfiança de Deus, que prometeu velar sobre nós com paternal solicitude, não nos deixando jamais faltar no necessário, contanto que tenhamos confiança nele. Convida-nos a olhar para as aves do céu, que não trabalham nem fiam, não certamente para nos incitar à preguiça, senão para acalmar as nossas preocupações e nos estimular à confiança em nosso Pai Celestial. Ora o avarento, em lugar de por a sua confiança em Deus, coloca-a na multidão das suas riquezas e faz injúria a Deus, desconfiando dele: "Ecce homo qui non posuit Deum adiutorem suum, sed speravit in multitudine divitiarum suarum et praevaluit in vanitate sua"(Sl 51,9). Esta desconfiança é acompanhada de excessiva confiança em si mesmo, na sua atividade pessoal, e assim caindo numa espécie de idolatria em que ele faz do dinheiro o próprio Deus. Ora, ninguém pode servir ao mesmo tempo dois senhores, a Deus e ao dinheiro: "non postesti Deo servire et mummonae"(Mt 6,24).
É paixão que tende a suplantar a Deus em nosso coração: este coração, que é templo de Deus, é invadido por toda sorte de desejos inflamados das coisas da terra, de inquietações, de preocupações absorventes. Ora, para nos unirmos a Deus é mister desprender o coração de qualquer criatura ou preocupação terrena; porque Deus quer "todo o espírito, todo o coração, todo o tempo e todas as forças de suas próprias criaturas". É sobretudo necessário esvaziá-lo do orgulho; ora o apego das riquezas desenvolve esse orgulho, porque o homem tem mais confiança nos bens terrenos do que em Deus.
Deixar prender o coração ao dinheiro é, pois, levantar um obstáculo ao amor de Deus; porque onde está o nosso tesouro lá está também o nosso coração: "ubi thesaurus vester, ibi et cor vestrum erit". Desprendê-lo é abrir a Deus a porta do coração: uma alma despojada dos bens da terra é rica do próprio Deus: toto Deo dives est.
O melhor remédio é a convicção profunda, fundada na razão e na fé, que as riquezas não são fim, senão meios que nos dá a Providência, para acudirmos às nossas necessidades e às dos nossos irmãos; que Deus nunca deixa de ser o soberano Senhor delas; que nós, a bem dizer, não passamos de meros administradores, e que um dia haveremos de dar contas delas ao Juiz Supremo. E depois, são bens que passam, que não levaremos conosco para a outra vida, onde não corre essa moeda; se somos prudentes, para o Céu e não para a terra é que trataremos de capitalizar: "Não queirais entesoirar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os destroem e os ladrões os desenterram e furtam. Entesoirai antes para vós tesouros no Céu, onde nem a ferrugem nem a traça os destroem e onde os ladrões não os desenterram, e nem furtam"(Mt 6,19-20).
E assim, a luta contra estes setes pecados capitais acaba de desarreigar em nós as tendências, para nos exercitarem na paciência e despertarem o sentimento da desconfiança em nós mesmos; serão, porém, muito menos perigosa, e apoiados na graça de Deus, mais facilmente delas triunfaremos. Apesar de todos os nossos esforços, elevar-se-ão ainda com certeza tentações em nossa alma, que a Providência divina permitirá, para nos dar ocasião de novas vitórias.
(fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961)
Um comentário:
Caro Jodeilson...
Compro livros italianos geralmente no site www.ibs.it
Como sabe, os preços são em euro e o transporte até aqui, feito pela FEDEX, custa o olho da cara. Mas vale a pena...Pelo menos eu acho!
Abraço e bom final de semana
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