A preguiça é uma tendência a ociosidade ou ao menos a negligência, ao torpor na ação. Às vezes é uma disposição mórbida que vem do mau estado da saúde. Na maioria das vezes, porém, é uma doença da vontade, que teme a recusa do esforço. O preguiçoso quer evitar qualquer tipo de trabalho, tudo quanto lhe pode perturbar o sossego e arrastar consigo fadigas. Verdadeiro parasita, vive, quanto pode, a expensas dos outros. Manso e resignado, enquanto não inquietam, impacienta-se e irrita-se, se o querem tirar da sua inércia.
Para compreender a malícia da Preguiça, cumpre-nos recordar que o homem foi feito para o trabalho. Quando Deus criou nosso primeiro pai, pô-lo num paraíso de delícias, para que nele trabalhasse: "ut operaretur et custodiret illum"(Gên II, 15). E que o homem não é um ser perfeito como Deus; tem numerosas faculdades, que para se aperfeiçoarem, necessitam de operar: é pois, exigência de sua natureza trabalhar, para cultivar as potências, prover as necessidades do corpo e alma, e tender assim para o seu fim. A lei do trabalho precede, pois, a culpa original. Mas, depois que o homem pecou, tornou-se para ele o trabalho não somente uma lei da natureza, senão também um castigo, isto é, tornou-se penoso, como meio que é de reparar sua falta. Como suor do rosto haveremos de comer o nosso pão, tanto o pão da inteligência como o pão que alimenta o nosso corpo: "in sudore vultus tui vesceris pane"(Gên III, 19).
Ora, a esta dupla lei, natural e positiva, é que o preguiçoso falta; comete, pois, um pecado, cuja gravidade se mede pela gravidade dos deveres que descura. a) Quando chega a omitir os deveres religiosos necessários a própria salvação, há falta grave. O mesmo se diga, quando despreza voluntariamente, em matéria importante, algum de seus deveres de estado. b) Quando este torpor o não leva a descurar senão deveres religiosos ou civis, de menor importância, não passa de venial o pecado. Mas a ladeira é resvaladia; se não se luta contra a negligência, não tarda esta em se agravar, tornando-se mais funesta e culpável.
Para curar o preguiçoso, é necessário antes de tudo inculcar-lhe convicções profundas sobre a necessidade do trabalho, fazer lhe compreender que ricos e pobres são sujeitos a essa lei e que basta faltar a ela que para incorrer da eterna condenação. É esta a lição que nos dá Nosso Senhor Jesus Cristo na parábola da figueira estéril. Três anos a fio vem o dono a buscar os frutos, não os encontrando, dá a ordem ao pomareiro que corte a árvora: "succide illam, ut quid etiam terram ocuparet?"(Mt III, 10).
(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961)
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