sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Teologia Ascética e Mística: Objeto do escrúpulo e seu remédio

Ás vezes é universal o escrúpulo e recai sobre toda a sorte de objetos; antes da ação, aumenta desmesuradamente os perigos que se podem encontrar nesta ou naquela ocasião, aliás bem inocente; depois da ação, povoa a alma as inquietações mal fundadas e facilmente persuade a consciência que caiu em culpa grave.




As mais das vezes, porém, refere-se a certo número de matérias particulares:




a) Às confissões passada: ainda depois de muitas confissões gerais, não fica satisfeito o escrupuloso com medo de não haver acusado tudo, de não ter tido dor, querendo sempre voltar ao princípio; b) aos maus pensamentos: a imaginação está cheia de imagens perigosas ou obscenas, e como produzem certa impressão, receia haver consentido, tem até certeza, apesar de tudo aquilo lhe desagradar infinitamente; c) aos pensamentos de blasfêmia: porque estas idéias lhe perpassam pelo espírito, fica persuadido que houve consentimento, não obstante o horror que lhe causa; d) à caridade: ouviu murmurações, sem protestar energicamente; faltou ao dever da correção fraterna por mero respeito humano, escandalizou o próximo com palavras indiscretas, viu um tumulto e não foi observar se não haveria qualquer acidente de alguém que necessitasse da intervenção de um padre, para lhe dar absolvição, e em tudo isso vê gravíssimos pecados mortais; e) às espécies consagradas, que teme ter tocado indevidamente e quer purificar as mãos e as vestes; f) às palavras da consagração, a recitação integral do ofício divino, etc...




Quando alguém tem a desdita de se deixar dominar pelos escrúpulos, são deploráveis os efeitos que eles produzem no corpo e na alma:




Enfraquecem gravemente e desequilibram suas faculdades mentais: os temores, as angústias incessantes exercem uma ação deprimente sobre a saúde do corpo; podem converter-se numa verdadeira obsessão e produzir uma série de monoideísmo, muito próximo da loucura.




Cegam o espírito e falseiam o juízo: perde-se pouco a pouco, a faculdade de discernir o que é pecado do que o não é, o que é grave do que é leve; torna-se a alma um navio sem leme.




A indevoção do coração é muitas vezes conseqüência do escrúpulo; a força de viver na agitação e confusão torna-se o escrupuloso medonhamente egoísta, entra a desconfiar de toda a gente e até de Deus, que começa a olha com demasiado severo; queixa-se de que o Senhor nos deixa neste infeliz estado, acusa-o injustamente: é manifesto que a verdadeira devoção, em tal estado é impossível.




Vem por fim os desfalecimentos e as quedas. O escrupuloso gasta suas energias em esforços inúteis sobre ninharias, e depois, já não tem força para lutar em pontos de grande importância, porque é impossível fixar a atenção com toda a intensidade, em toda a linha. Daqui a surpresas, desfalecimentos e às vezes faltas graves. E depois, é natural alívio as mágoas; e como encontra na piedade, vai se procurar em outra parte, nas leituras, nas amizades perigosas, o que tantas vezes é ocasião de faltas deploráveis, que lançam a alma no mais profundo desalento.




Quem souber, porém, aceitar os escrúpulos como provação, e corrigir-se deles pouco a pouco, com auxílio de um prudente diretor, encontrará neles preciosas utilidades.




Servem para purificar a alma, porque esta se aplica a evitar os menores pecados, as mais pequeninas imperfeições voluntárias, e assim se adquire uma grande pureza de coração.




Ajudam-nos a praticar a humildade e a obediência, obrigando-nos a submeter as nossas dúvidas ao diretor espiritual com toda a simplicidade e a seguir os seus avisos com plena docilidade não só da vontade senão também do juízo




Contribuem para nos aperfeiçoar na pureza de intenção, desapegando-nos das consolações espirituais e unindo-nos unicamente a Deus, que amamos tanto mais quanto mais ele nos prova.


É logo desde o princípio que se deve combater os escrúpulos, antes que ele tenha lançado profundas raízes profundas na alma. Ora, o maior, ou a bem dizer, o único remédio do escrúpulo é a obediência plena e absoluta a um diretor experimentado. Como a luz da consciência se ofuscou, é mister recorrer a outra luz. Um escrupuloso é um navio sem leme e sem bússola; é necessário pois, tomá-lo a reboque. Deve, por conseguinte, o diretor, ganhar a confiança do escrupuloso e saber exercer a sua autoridade sobre ele para o curar.




(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961)

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