sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Teologia Ascética e Mística: O fevor indiscreto dos principiantes



Muitos principiantes, cheios de boa vontade, dão-se com ardor ou entusiasmo excessivo ao trabalho da própria perfeição, e acabam por se fatigar e esgotar em esforços inúteis.


A causa deste próprio efeito é substituir a própria atividade à Deus: em vez de refletir, antes de operar, em vez de seguir e as luzes do Espírito Santo, precipita-se o homem na ação com ardor febril; em vez de consultar o diretor, faz primeiro o que quer, e só depois se dá conta do fato consumado; donde um sem-número de imprudências, esforços e pedidos sem conta.



Muitas vezes insinua-se a presunção: quer-se-ia chegar a perfeição dum salto, sair prontamente dos exercícios da penitência e alcançar depressa a união com Deus; Mas ai! Quantos obstáculos imprevistos se levantam! E então esmorecer-se, recua-se, e cai-se por vezes em faltas graves.



Outras vezes é a curiosidade que domina: anda-se a rebuscar incessantemente novos meios de perfeição, ensaiam-se algum tempo e dentro em breve põe se aparte, antes mesmo de produzirem seus efeitos. Fazem-se a cada passo novos projetos de reforma para si e para os outros, e depois não se executam por esquecimento.



O resultado mais evidente desta atividade excessiva é perda do recolhimento interior, a agitação e perturbação, sem nenhum resultado sério.



O remédio principal é submeter-se com inteira dependência à ação de Deus, refletir maduramente antes de operar, orar para obter a luz divina, consultar o próprio diretor espiritual e ater-se à sua decisão. Assim como, ordem da natureza, não são as forças violentas que obtêm os melhores resultados, senão as forças bem disciplinadas, assim, na vida sobrenatural, não são os esforços febris, senão os esforços calmos e bem controlados que nos fazem progredir: "quem vai sem pressa não tropeça".



Mas, para assim nos submetermos a ação de Deus, é necessário combater a causa desse amor excessivo:



  1. A vivacidade de caráter, que impele as decisões demasiado apressadas;



  2. A presunção, que vem da excessiva estima em si mesmo;



  3. A curiosidade, que sempre anda a busca de qualquer novidade. Dirigir-se-á, pois, o ataque contra esses defeitos por meio do exame particular, e então Deus retomará o seu lugar na alma e a guiará com paz a suavidade na senda da perfeição.



Na próxima postagem iremos abordar sobre os escrúpulos da vida espiritual.




(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Apostolado da Imprensa - 1961)

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