A fé nos ensina que Nosso Senhor Jesus Cristo foi crucificado e morreu realmente, e foi sepultado. Não é sem motivo que aos fiéis se propõe esta verdade, como objeto de fé explícita; pois não faltaram homens que negassem a morte de Cristo na Cruz.
A este erro doutrinário julgaram os Apóstolos, como toda a razão, que se devia opor a heresia de afirmar que Cristo não morreu na Cruz. E não é possível duvidar da veracidade deste artigo, porquanto todos os evangelistas concordam em afirmar que "Jesus entregou o espírito" (Mt 25,70; Mc 15,37; Lc 23,46; Jo 19,30; IPed 3,18).
Ademais, homem que era perfeito e verdadeiro. Cristo podia também morrer, no sentido próprio da palavra. Ora, o homem morre, quando a alma se aparta do corpo. Portanto, quando dizemos que Jesus Cristo morreu, queremos simplesmente declarar que sua alma se separou do corpo.
Mas não admitindo que o corpo se tenha separado da divindade. Muito pelo contrário. Com fé inabalável confessamos que, separada a alma do corpo, a divindade permaneceu sempre unida, não só ao corpo no sepulcro, como também à alma nos infernos.
Convinha que o filho de Deus morresse, a fim de aniquilar aquele que tinha o poder da morte, isto é, o demônio; e libertar os que, pelo temor da morte, passavam toda a vida na escravidão (Heb 2,14).
O que houve de extraordinário em Cristo Nosso Senhor é ter morrido quando ele mesmo decretou morrer; é ter sofrido a morte por um ato de sua vontade, e não por violência estranha. Foi ele mesmo que decretou não só a própria morte, mas até o tempo e o lugar onde havia de morrer.
Assim pois profetizara Isaías: "Foi imolado, porque ele próprio o quis". Antes da paixão, o Senhor mesmo disse de si próprio: "Eu dou minha vida, para que a tome de novo. Ninguém a tira de mim, Mas eu que a dou de mim mesmo. Tenho o poder de dá-la e tenho o poder de tomá-la de novo" (Jo 10,17-18).
Quando Herodes espreitava a ocasião de lhe dar a morte, Cristo mesmo se declarou a respeito do tempo e lugar: "Ide dizer a essa raposa: que lanço fora os demônios, e faço curas hoje e amanhã, e no dia seguinte, devo ainda caminhar, porque não convém que um profeta pereça fora de Jerusalém" (Lc 13,32-33).
Nada fez, portanto, contra sua vontade, ou por imposição alheia. Pelo contrário, foi voluntariamente que se entregou a si mesmo. Indo ao encontro de seus inimigos, disse-lhes: "Sou Eu" (Jo 18,15). E de livre vontade aturou todos os iníquos e cruéis tormentos, que lhe foram infligidos.
Esta é a circunstância que mais deve empolgar o coração, quando nos pomos a meditar todas as dores e padecimentos. Se alguém tivera sofrido por nós todas as dores, não espontaneamente, mas só por não poder evitá-las, é certo que nessa atitude não veríamos uma mercê de grande valor. Mas, quando alguém sofre a morte por nossa causa, quando o faz de livre vontade, ainda que seja possível esquivar-se, então é que nos dá uma prova de extrema bondade. Por mais conhecido que fosse, ninguém teria meios para lho agradecer, e muito menos meio de lho retribuir condignamente. Por tal critério podemos avaliar o soberano e extremado amor de Jesus Cristo, os direitos divinos e infinitos que adquiriu sobre o nosso coração.
(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - Ed. Vozes - 1962)
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