Hoje iniciamos um estudo concentrado nas origens sobrenaturais do homem. A partir deste dia iremos focar nossa atenção sobre a vida sobrenatural e suas origens. Iniciaremos no homem e logo em seguida passaremos pela história salvífica do povo de Deus. A primeira parte deste estudo inicia no 2º capítulo da série de postagens. Depois de entender a logística dos pecados e das vias que conduzem as almas dos principiantes, tomaremos a cabo o assunto.
Noção sobrenatural
Sobrenatural, em geral, é tudo o que supera a natureza de um ser, as forças atuais; as suas exigências e os seus merecimentos.
Distingue-se duas espécies de sobrenatural:
1º O Sobrenatural Absoluto ou por essência (quoad substantiam) é um dom divino feito à criatura inteligente, o qual transcende absolutamente as exigências de toda a criatura, ainda mesmo possível, neste sentido que não só não pode ser produzido, mas nem sequer postulado, exigido, merecido por ela; excede, pois, não somente todas as suas capacidades ativas, mas ainda todos os seus direitos e exigências. É algo finito, pois que é um dom concedido a uma criatura; mas ao mesmo tempo é algo de divino, visto que só o divino pode sobrepujar as exigências de toda a criatura. Mas é divino comunicado, participado dum modo finito, e assim evitamos o panteísmo. Não há em realidade senão duas formas de sobrenatural por essência: a Encarnação e a graça santificante.
No primeiro caso, une-se a Deus à humanidade na pessoa do Verbo, de tal sorte que a natureza humana de Jesus tem por sujeito pessoal a segunda pessoa da Santíssima Trindade, sem ser alterada como natureza humana, é verdadeiramente Deus, quanto a sua personalidade. É esta uma união substancial, que não funde duas naturezas em uma só, senão que as une, conservando-lhes a integridade, em uma só e mesma pessoa, a pessoa do Verbo; é pois, uma união pessoal e hipostática. É o mais alto grau de sobrenatural quoad substântiam.
A graça santificante é um grau menor deste mesmo sobrenatural. Por ela, conserva o homem, sem dúvida, a sua personalidade própria, mas é modificado divina, posto que acidentalmente, na sua natureza e capacidade de ação; torna-se não certamente Deus, mas deiforme, isto é, semelhante a Deus, divinae consors naturae, capaz de atingir a Deus diretamente pela visão beatífica, quando a graça for transformada em glória, e de o ver face a face, como ele se vê a si mesmo: privilégio que evidentemente, sobrepuja as exigências das mais perfeitas criaturas, pois, que nos faz participar da vida intelectual de Deus, da sua natureza.
2º O sobrenatural relativo ou quanto ao modo (quoad modum) é em si uma coisa que não transcende as capacidades ou exigências de toda a criatura, mas somente as de alguma natureza particular. Assim por exemplo a ciência infusa, que sobrepuja as capacidades do homem, não porém as do anjo, é sobrenatural deste gênero.
Deus comunicou ao homem estas duas formas de sobrenatural: com efeito, conferiu aos nossos primeiros pais o dom de integridade (sobrenatural quoad modum) que, completando-lhes a natureza, a dispunha à recepção da graça, dom sobrenatural quoad substântiam: o complexo destes dois dons constituiu o que se chama a justiça original.
(Fonte: Compêdio de Tologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961)
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