A despeito de todos estes privilégios, o homem permanecia livre, e foi submetido a uma prova, para poder com o auxílio da graça, merecer o céu. Estas provas consistiam no cumprimento das leis divinas, e, em particular, de um preceito positivo acrescentado a lei natural, e que é expresso pelo livro do Gênesis sob a forma da proibição de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal.
A Sagrada Escritura narra como o demônio, sob a forma de uma serpente, vem tentar os nossos primeiros pais, suscitando-lhes no espírito uma dúvida sobre a legitimidade desta lei. Procura persuadir-lhes que, se comerem deste fruto, longe de morrerem, serão como deuses, sabendo por si mesmos o que é o bem e o que é o mal, sem necessidade de recorrer a lei divina: "eritis sicut dii, scientes bonum et malus" (Gên 3,5). Era uma tentação de orgulho, de revolta contra Deus. O homem sucumbe e comete formalmente um ato de desobediência, como nota São Paulo (Rom 5), mas inspirados pelo orgulho, e imediatamente seguidos de outras faltas. Era uma culpa grave, pois era recusar-se a submeter-se a autoridade de Deus; era uma espécie de negação de seu domínio e de sua sabedoria, já que este preceito era uma forma que provar a fidelidade do primeiro homem; culpa tanto mais grave, quanto melhor conheciam os nossos primeiros pais a infinita liberalidade de Deus para com eles, os seus direitos imprescritíveis, a gravidade do preceito manifestado pela gravidade da sanção que lhe fora anexa; e, como não eram arrastados pelo ímpeto das paixões, tinham tempo de refletir sobre as conseqüências formidáveis do seu ato.
Não se explica até sem uma certa dificuldade como é que eles puderam pecar, se não estavam sujeitos a tirania da concupiscência. Para o compreendermos, é mister recordar não há criatura alguma impecável; pode, efetivamente, desviar os olhos do bem verdadeiro para os voltar para o bem aparente, apegar-se a este último e preferi-lo ao primeiro; e é precisamente esta preferência que constituiu o pecado. Como bem nota Santo Tomás, impecável é somente aquele cuja a vontade se confunde com a lei moral, o que é privilégio exclusivo de Deus.
(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961 - 6ª edição)
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