sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Teologia Ascética e Mística: Ilusões dos principiantes acerca das securas

As securas são privações das consolações sensíveis e espirituais, que facilitam as orações e as práticas das virtudes. Apesar de esforços muitas das vezes renovados, não se sente gosto na oração, experimenta até dela enfado, cansaço, e o tempo parece não ter fim; poderia se dizer que se encontram adormecidas a fé e esperança, e a alma, privada de toda alegria, vive numa espécie de torpor; não, opera senão a golpes de vontade. É este sem dúvida um estado extremamente penoso; mas tem também suas utilidades.


a) Quando Deus nos envia securas, é para desprender-nos de tudo quanto é criado, até mesmo da doçura que se encontra na piedade, para aprendermos amar a Deus só, e por si mesmo.



b) Quer também, Deus, nos humilhar mostrando-nos que as consolações não nos são devidas, antes são favores essencialmente gratuitos.



c) Com elas também nos purifica mais, tanto das faltas passadas como das afeições presentes e de qualquer inclinação egoísta: quando se tem de servir a Deus sem gosto, por convicção e vontade, sofre-se muito, e esse sofrimento é expiatório e reparador.



d) Fortalece-nos enfim nas virtudes, porquanto, para continuar a orar e praticar o bem, é preciso exercitar com energia e constância a vontade, e por meio deste exercício e que se fortifica a virtude.



Como as securas vem as vezes de nossas faltas, é preciso antes de tudo examinar seriamente, mas sem excessiva inquietação se delas não somos responsáveis:






  1. Por certos movimentos mais ou menos consentidos de vã complacência e de orgulho;



  2. Por uma espécie de preguiça espiritual, ou, pelo contrário, por uma contensão de espírito intempestiva;



  3. Pela busca das consolações humanas, de amizade demasiado sensíveis, de prazeres mundanos, porque Deus não quer nada de um coração dividido;



  4. Pela falta de lealdade com o diretor; "porquanto, uma vez que mente para o Espírito Santo, diz São Francisco de Sales, não é maravilha que ele vos recuse a sua consolação" A solução para este tipo de aridez, é humilhar-se e esforçar-se por suprimi-la.



Se não lhe demos causa, importa utilizar bem esta provação.




  1. O melhor meio para conseguir, é persuadirmos que servir a Deus sem gosto e sem sentimento é mais meritório do que fazê-lo com muita consolação; que basta querer amar a Deus, para o amar, e que, enfim o ato mais perfeito de amor é conformar a própria vontade com a de Deus.



  2. Para tornar esta ato mais meritório ainda, não há nada melhor do que unir-se a Jesus Cristo que, no Jardim das Oliveiras se designou sentir que o tédio e a tristeza por amor de nós e repetir com ele: "Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua" (Lc 22,42).



  3. Mas o que sobretudo importa é nunca perder o ânimo, nem cercear nada dos seus exercícios, dos seus esforços das suas resoluções; antes imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo que, mergulhado na agonia, orou mais longamente "Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua".



Para ser bem entendido aos dirigidos esta doutrina sobre as consolações e as securas, é necessário repeti-la muitas vezes; porque apesar de tudo, eles crêem que vão muito melhor, quando tudo corre a medida de seus desejos, do que quando é necessário remar contra a correnteza. Pouco a pouco, porém, faz-se luz; e as almas, que não se envaidecem no momento da consolação, nem perdem o ânimo no tempo da secura, estão próximas de fazerem progressos muito mais rápidos e constantes.

(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1962)


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