Na postagem anterior iniciamos um estudo aprofundado no que diz respeito a maternidade divina de Maria Santíssima, ao passo que hoje iremos dar continuidade:
Como estes mistérios "foram escritos para nossos ensinamentos" (Rom 15,4), devemos conservá-los profundamente no espírito e nos nossos corações. Antes de tudo, para que a recordação de tão grande benefício os leve a render graças a Deus, seu autor. Depois para que tenham diante dos olhos e tratem de imitar este singular exemplo de humildade.
Realmente, que pode haver de mais útil e mais próprio frear nossos egoísmo, orgulho e arrogância espiritual, do que considerar como Deus se humilha, a ponto de tomar sobre si a fraqueza e a fragilidade humana; como Deus se fez homem, e se põe a serviço do homem sua soberana e infinita majestade, a cujo aceno, no dizer da escritura, as colunas do Céu vacilam e tremem de pavor (Jo 26,11); como veio afinal a nascer na terra aquele, a quem os anjos adoram nos Céus (Apoc 7,11).
Ora, se Deus faz tanto por nós, que nos incumbe de nossa parte, para realizar sua vontade? Com quanta alegria e prontidão de espírito não devemos, pois, amar, abraçar, e cumprir a todos os deveres que nos impõe a humildade.
Devem os fiéis tomar a peito as salutares lições que Cristo nos dá, desde o seu nascimento, antes de ter proferido a menor palavra. Nasce na indigência. Nasce, como um estranho, na estalagem. Nasce numa simples manjedoura. Nasce no rigor do inverno.
Eis o que relata São Lucas: "Quando ali estavam, aconteceu completar-se o tempo em que devia dar a luz. E deu a luz a seu filho primogênito, envolveu-o em faixas, e reclinou-o numa manjedoura; pois não havia lugar para eles na estalagem" (Lc 2,6-7).
Poderia o Evangelista ter exprimir, em termos mais lhanos, toda majestade e glória do Céus e da Terra? Não escreve, apenas, que não havia lugar na estalagem, mas que não havia lugar para Aquele, que de si declarou: "Minha é a redondeza da Terra, com todas as coisas que se acha repleta" (Salm 49,12). Outro evangelista dá o mesmo testemunho: "veio para o que era seu, e os seus não o receberam" (Jo 1,11).
Levando em conta estes fatos, os fiéis devem ainda lembrar-se de que, se Deus quis assumir a baixeza e a fragilidade da carne humana, foi para elevar o gênero humano no mais alto grau de honra e dignidade. Com efeito, como prova da eminente posição e dignidade, a que a bondade divina exaltou o homem, basta realmente existir um homem que, ao mesmo tempo, é perfeito e verdadeiro Deus.
Por conseguinte, podemos gloriar-nos de que o Filho de Deus é "nossa carne e ossos"(Gên 29,14). Regalia essa que não se aplica nem aos próprios espíritos bem-aventurados, porquanto diz o Apóstolo: "Não assumiu a natureza dos anjos" (Heb 2,16).
Sem embargo, devemos cuidar não nos aconteça, para a maior desgraça nossa, o que sucedeu na estalagem em Belém, onde faltava lugar para Cristo nascer; que, já não nascemos corporalmente, não possa ele descobrir em nossos corações um lugar, para nascer espiritualmente. Nascer dentro de nossas almas é o que Jesus quer, com toda a veemência, pois nossa salvação é o objeto de sua maior solicitude.
Assim como ele se fez homem por obra do Espírito Santo, e nasceu de uma maneira que supera as leis da natureza; assim como ele é santo, e é a própria santidade; assim também devemos nascer, não do sangue ou da vontade humana, mas de Deus" (Jo 1,13); e depois levar uma "vida nova" (Rom 6,4), como novas criaturas para nos conservarmos aquela santidade e pureza de espírito, que é o maior apanágio dos homens regenerados pelo Espírito Santo.
Desta arte reproduzimos a certa imagem e semelhança da santa conceição e do santo nascimento do Filho de Deus, o que para nós constituiu uma fé inabalável. E na posse desta fé, contemplamos elevados, e adoramos a sabedoria de Deus no Mistério, a qual se ache encoberta.
(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - Ed. Vozes - 1962)
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