quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Catecismo Online: "E foi concebido pelo poder do Espírito Santo, no seio de Maria Virgem".(Parte II)

Agora vamos nos profundar melhor sobre a encarnação do Verbo que em muita das vezes se vê acompanhado de dúvidas. As heresias são muitas e causa uma enorme confusão sobre tal mistério. Vejamos então a continuação desta segunda parte que trata sobre a Encarnação de Cristo na terra.


Verifica-se, neste mistério, que alguns elementos superam a ordem da natureza, e que outros lhe são conformes. Cremos que o Corpo de Cristo se formou do puríssimo sangue da Virgem Sua Mãe, e nisso reconhecemos uma operação da natureza humana. É comum que todo corpo humano se forme de sangue materno.


Mas o que ultrapassa a ordem natural das coisas, e supera a força de nossa inteligência, é o fato seguinte: No instante de consentir a bem-aventurada Virgem as palavras do anjo, declarando: "Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a vossa palavra", - Logo começou formar-se o Santíssimo Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual se uniu uma alma dotada de inteligência, de sorte que, no mesmo instante, o Deus perfeito se tornou homem perfeito.


Ninguém pode duvidar que essa foi uma nova e admirável ação do Espírito Santo, pois segundo a ordem natural a alma humana não pode informar nenhum corpo, senão em certo lapso de tempo¹.


Acresce ainda outro fato, digno de maior admiração. Tanto que a alma se uniu ao corpo, a própria divindade uniu-se também ao corpo e à alma. Por conseguinte, logo que o corpo foi formado e animado, a Divindade ficou ligada tanto a alma como ao corpo.


Daí se segue que, no mesmo instante, Deus perfeito veio a ser perfeito homem; e que a Santíssima Virgem pode, verdadeira e propriamente, ser chamada Mãe de Deus, porque no mesmo instante concebia a Deus e ao Homem.


E o que lhe foi significado, quando o Anjo lhe dissera: "Eis que conceberás no teu seio, e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Este será grande, e chamar-se-á filho do Altíssimo". E por este fato realizou-se a profecia de Isaías: "Eis que uma Virgem conceberá e darás à Luz um filho" (Is. 7,14).


Mas, como acabamos de dizer, o Corpo de Cristo se formou do puríssimo sangue de Maria toda imaculada, sem nenhuma interferência de homem, mas unicamente pela virtude do Espírito Santo.


Assim também sua alma recebeu, desde o primeiro instante da conceição, a mais rica abundância do Espírito Santo e de toda a plenitude de carismas. Segundo o testemunho de São João, "Deus não lhe dá o Espírito por medida", como aos outros homens, aos quais reveste de graça e santidade, mas infundiu-lhe na alma todas as graças com tanta profusão, que "de Sua plenitude todos nós recebemos" (Jo 1,16).


No entanto, Cristo não pode ser chamado de filho adotivo de Deus, ainda que teve aquele Espírito, pelo qual os homens justificados conseguem a adoção de filhos de Deus. Sendo Filho de Deus por natureza, deve crer-se que de modo algum lhe cabe a graça de adoção, nem o título de Filho adotivo.


São estas as explicações que, em nosso sentir, devíamos dar a propósito do admirável mistério da Encarnação. Para delas tirar frutos salutares, devem os fiéis antes de tudo recordar, e muitas vezes meditar, de coração, os pontos seguintes:


É Deus Aquele que assumiu a carne humana. Fez-se homem por uma via que nossa razão não alcança, e que nossa linguagem não pode muito menos exprimir. Fez-se Homem, enfim, porque queria que nós homens renascêssemos como filhos de Deus.


Após atenta consideração destas verdades, os fiéis devem crer e adotar, com espírito crente e humilde, todos os mistérios contidos no presente artigo. Mas não se ponham a inquiri-los e esquadrinhá-los por mera curiosidade. Tal pretensão quase nunca deixa de ter os seus perigos.


1- Alude a doutrina defendida por São Tomás de Aquino, que no embrião admite três almas sucessivas, primeiro a vegetativa, depois a animal, por último a racional. Sustentam-na ainda, como provável, o Cardeal Mercier e poucos autores modernos. Na atualidade a maioria dos filósofos adotam uma forma de pensamento diferente dos Escolásticos medievais. Segundo a qual a alma racional é infundida desde o momento da concepção.


(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - Ed. Vozes - 1962)

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