sábado, 28 de julho de 2007

Teologia Ascética e Mística: A Luxúria




Assim como quis Deus que andasse em anexo um prazer sensível ao alimento, para ajudar ao homem conservar a vida, assim ligou um prazer especial aos atos pelos quais se propaga a espécie humana.

Este prazer é, conseguinte, permitido às pessoas casadas, contanto que usem dele para o nobilíssimo fim para que foi instituído o matrimônio, a transmissão da vida; fora do matrimônio, é rigorosamente interdito esse prazer. A despeito dessa proibição, há infelizmente em nós, a partir sobretudo dos anos da puberdade ou da adolescência, uma tendência mais ou menos violenta a experimentar esse prazer, até mesmo fora do matrimônio legítimo. É esta tendência desordenada que se chama luxúria, e é condenada em dois preceitos do decálogo: 6.º Guardar a castidade nas palavras e nas obras; 9.º Guardar a castidade nos pensamentos e nos desejos.
Não são, pois, somente proibidos os atos externos, senão também os atos internos consentidos, imaginações, pensamentos e desejos. E com toda a razão porque, se alguém se demora, de propósito deliberado, em imagens, em pensamentos desonestos, ou em maus desejos, logo os sentidos se perturbam, produzindo-se movimentos orgânicos, que muitas vezes serão prelúdio de atos contrário a pureza. Quem quiser, pois, evitar estes atos, tem que combater pensamentos e imaginações perigosas.

Toda vez que se quer ou procura diretamente o prazer mau, o prazer volutuoso, há pecado mortal. É que, de fato, é gravíssima desordem por em risco a conservação e propagação da raça humana. Ora, uma vez que se assentasse como princípio, que é lícito procurar o prazer da carne em pensamentos, palavras ou ações fora do uso legítimo do matrimônio, seria impossível por freio ao furor desta paixão, cujas exigências aumentam com as satisfações que se lhe concedem, e dentro em breve seria frustrado o fim do Criador.

Sob aspecto da perfeição, não há, depois do orgulho, obstáculo maior ao progresso espiritual que o vício impuro: a) Solitária ou cometida com outras pessoas, não tardam essas faltas em produzir atos tirânicos, que paralisam todo o ardor para a perfeição e inclinam a vontade para as alegrias grosseiras. Gosto da oração, desejo de qualquer virtude austera, aspirações nobres e generosas, tudo isso desaparece. b) A alma é invadida pelo egoísmo: o amor, que se tinha para os pais e os amigos, estiola-se e desaparece quase completamente; não resta mais do que o desejo de gozar, a todo preço dos prazeres maus: é uma verdadeira obsessão. c) Rompe-se, então, o equilíbrio das faculdades: é o corpo e a volúpia que manda; a vontade torna-se escrava desta ignominiosa paixão, e dentro em breve revolta-se contra Deus, que proíbe e que castiga esses prazeres maus.

Para resistir a paixão tão perigosa, requerem-se: convicções profundas, a fuga das ocasiões, a mortificação e a oração.

Convicções profundas, tanto sobre a necessidade de combater este vício como sobre a possibilidade de o vencer. O que dissemos da gravidade do pecado da luxúria mostra bem como é necessário evitá-lo, para nos não expormos às penas eternas. A estes motivos se podem acrescentar mais dois, tirados de São Paulo: 1º) Somos templos vivos da Santíssima Trindade, templos santificados pela presença do Deus de toda a santidade e por uma participação da vida divina. Ora, nada contamina mais este templo que o vício impuro que profana ha um tempo o corpo e alma, do homem batizado. 2º) Somos membros de Jesus Cristo, em quem somos incorporados pelo batismo; e, por conseguinte, devemos respeitar o nosso corpo como o corpo do próprio Cristo. E havíamos de profanar com atos contrários a natureza?! Não seria uma espécie de sacrilégio abominável procurar esse prazer grosseiro que nos abate ao nível dos irracionais?!

(Fonte: Compêndio da Teologia Ascética e Mística - Apostolado da Imprensa - 1961)

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