sexta-feira, 20 de julho de 2007

Teologia Ascética e Mística: A Gula



A gula não é senão o abuso do prazer legítimo que Deus quis acompanhasse o comer e o beber, tão necessário à conservação do indivíduo. Vamos expor aqui este pecado capital que é um dos que estão anexos a sensualidade.

A natureza da gula é o amor desordenado dos prazeres da mesa, da bebida ou da comida. A desordem consiste em procurar o prazer do alimento, por si mesmo. Considerando-o explicitamente como um fim, a exemplo daqueles que fazem do seu ventre um deus, "quorum Deus venter est"; ou em procurar com excesso, sem respeitar as regras que dita a sobriedade, algumas vezes até com o prejuízo da saúde.

A malícia da gula vem de escravizar a alma ao corpo, materializar o homem, enfraquecer sua vida intelectual e moral, preparando-o, por um pendor insensível, ao prazer da volúpia, que, em substância, é do mesmo gênero. Para lhe determinarmos com precisão a culpabilidade, importa fazer esta distinção.

A gula é falta grave, quando chega a excessos tais que nos torne incapazes, por tempo notável, de cumprir os nossos deveres de estado ou obedecer as leis divinas e eclesiásticas; por exemplo, quando prejudica a saúde, quando dá origem a despesas irresponsáveis, que põe em risco os interesses da família, e quando leva a faltar às leis da abstinência ou do jejum. O mesmo se diga, quando se torna de faltas graves.

A gula não passa de falta venial, quando alguém sede aos prazeres da mesa imoderadamente, mas sem cair em excessos graves, sem se expor a infringir qualquer preceito importante.
Sob o aspecto da perfeição, é a gula um obstáculo sério: 1) que prepara a alma para capitulações perigosas; 2) é fonte de muitas faltas, produzindo uma alegria excessiva, que leva a dissipação, a loquacidade, aos gracejos de gosto duvidoso, à falta de recato e modéstia, e abre assim a alma aos assaltos do demônio.

O princípio que nos deve dirigir na luta contra a gula, é que o prazer não é o fim, senão meio, e que, por conseguinte, deve ser subordinado a razão iluminada pela fé. Ora, a fé diz-nos que é necessário santificar os prazeres da mesa com pureza de intenção, sobriedade e mortificação.

(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Apostolado da Imprensa - 1961)

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