sexta-feira, 6 de julho de 2007

Teologia Ascética e Mística: A Inveja



A inveja é, ao mesmo tempo, paixão e vício capital. Como paixão, é uma espécie de tristeza profunda que se experimenta na sensibilidade à vista do bem que se observa nos outros; esta impressão é acompanhada de uma contrição do coração que lhe diminui a atividade e produz um sentimento de angústia.

A inveja é uma tendência a entristecer-se do bem de outrem, como se fosse um golpe vibrado à nossa superioridade. Muitas das vezes é acompanhada do desejo de ver o próximo privado do bem que nos faz sombra.

Nasce pois, do orgulho este vício, que não pode tolerar superiores nem rivais. Quando um está convencido da própria superioridade, entristece-se ao ver que outros são tão bem ou melhor dotados que ele, ou que ao menos alcançam maiores triunfos. O objeto da inveja é sobretudo as qualidades brilhantes; contudo em homens sérios também o podem ser qualidades sólidas e até virtude.

Manifesta-se este defeito pela mágoa que um sente, ao ouvir louvar os outros; e então procura-se atenuar esses elogios, criticando os que são louvados. Muitas das vezes confunde-se inveja com ciúme; quando se distinguem, define-se este como um amor excessivo do seu próprio bem, acompanhado pelo temor de nos seja arrebatado por outros.

A inveja em si é um pecado mortal, de sua natureza, porque é diretamente oposto a virtude da caridade, que exige que nos regozijemos com os bens de outrem. Nos seus efeitos a inveja muitas das vezes incita a odiar aqueles que são objetos da inveja ou ciúme, e por conseqüência, de falar mal deles, de os desacreditar, caluniar, ou de lhes desejar o mal. Além do ódio a inveja tende a semear divisões até no seio da família (recorde-se da história de José), ou entre famílias aliadas; e estas divisões podem ir muito longe e criar inimizades e escândalos. A inveja impele à conquista imoderada das riquezas e das honras, já que para sobrepujar aqueles a quem tem inveja, entrega-se o invejoso excesso de trabalhos, a manobras mais ou menos leais, em que se encontra comprometida a honradez. Perturbando a alma do invejoso, este pecado, não dá sossego e nem paz, enquanto que não se consegue eclipsar, e dominar os próprios rivais.

Os remédios para esse terrível mal consistem em desprezar os primeiros sentimentos de inveja e ciúme que se levantam no coração, e os esmagar como coisa ignóbil, a maneira de quem esmaga um réptil venenoso; em divertir para outra coisa qualquer; depois de restabelecido o sossego, refletir então que as qualidades do próximo não diminui as nossas, antes nos são incentivo para as imitarmos.
(Fonte: Teologia Ascética e Mística - Livraria apostolado da imprensa - 1962)

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