Antes de entrar no assunto do surgimento do maior movimento herético da história do Cristianismo, vamos buscar entender melhor de como estava a Europa no final da Idade Média e nas primícias da Idade Moderna.
No campo político, social e econômico a Europa ainda vivia em feudos, comunidades fechadas nas quais todos deviam obediência ao Senhor Feudal. Com o término das cruzadas, começava surgir no velho continente uma nova classe de pessoas, os burgueses, que viviam nos burgos (cidades). Toda sociedade como um todo passava por profundas transformações. Deixava-se o misticismo e a busca da santidade para uma nova busca objetiva rumo ao enriquecimento material e a garantia de uma vida confortável na terra. Quadro muito diferente do que se via séculos anteriores. Uma das grande mudança que se observava era a ascensão política dos Reis, que antes tinham seu poder reduzido nas mãos dos grandes Senhores feudais.
O pensamento do homem neste período passava por mudanças extremas. O homem tornava ser o centro das preocupações e não mais Deus. A busca do conhecimento e o desenvolvimento das ciências naturais eram impulsionados pela busca de obter novos lucros. O contato com outras civilizações fora o meio pelo qual se obtinha novos conhecimentos e novas experiências (ex: Marco Polo na China).
No campo cultural as artes sofriam transformações de acordo com o pensamento novo que ganhava espaço. Surgia o movimento artístico e cultural do Renascimento, onde se aplicavam as técnicas novas de arte baseada na cultura greco-romana. O renascimento era um movimento que remontava as origens pagãs da Europa, exaltando a beleza física dos corpos e a sensualidade.
No âmbito religioso a Igreja Católica era a Senhora das almas. Ainda muito ligada a Idade Média, a Igreja fora a instituição que mantinha fortemente nos seus muros o pensamento medieval, que na sociedade civil já estava desaparecendo. Quando o então Papa Júlio II decidiu reformar a Basílica de São Pedro em Roma, concedeu indulgências aos fiéis que doassem donativos para a construção da nova basílica. A Indulgência não se trata de perdão dos pecados como a maioria dos livros escolares descrevem com tamanha ignorância mas, sim de perdão das penas temporais obtidas pelos pecados já perdoados pelo sacramento da confissão. Lutero iria interpretar isso mais tarde como venda de bênçãos da Igreja. Outras práticas remanescentes da Idade média permaneciam ainda no início do período moderno, sendo questionada por parte da população como práticas ultrapassadas. O clero católico passava por um período de grande corrupção moral e religiosa, provocados pelo pensamento renascentista que já entrara nos conventos e mosteiros.
Todos esses e muitos outros fatores foram propícios para o surgimento do maior movimento herético da história, a pseudo-reforma protestante. Lutero foi apenas o estopim de um movimento que já estava pronto para acontecer. A falta de preparo do clero da época fez com que este movimento ganhasse as dimensões que ganhou ao longo destes últimos cinco séculos. Este é considerado a primeira revolução histórica, a revolta contra as autoridades eclesiásticas e contra a fé.
Na próxima semana o assunto será o movimento protestante.
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