Para mostrar mais amplamente o sentido deste artigo, devemos estudar a história de Ascensão, conforme descreveu com admirável precisão o evangelista São Lucas, nos Atos dos Apóstolos (Atos 1, 1-11).
Na explicação, será preciso antes de tudo observar que todos os outros mistérios se referem a Ascensão como a um ponto final, que resume a perfeição e a consumação de todos.
Com efeito, assim como pela Encarnação do Senhor começam todos os mistérios de nossa religião, assim também pela Ascensão termina a sua peregrinação neste mundo.
Os demais artigos do credo, relativos a Cristo Nosso Senhor, dão a conhecer sua extrema humildade e aviltação; pois nada se pode conceber de mais baixo e aviltante que o filho de Deus se revista, por nossos amor, na natureza humana e fragilidade, e queira sujeitar-se ao sofrimento e a morte.
Ora, como no artigo anterior confessamos que ressuscitou dos mortos; e no presente que subiu aos Céus, e está sentado a direita de Deus Pai, não existe expressão mais sublime e grandiosa, para nos dar uma idéia de sua glória suprema e divina majestade.
Depois desta exposição, é preciso explicar bem as razões porque Cristo subiu aos Céus. Antes de tudo, subiu aos céus, porque a seu corpo, dotado de glória imortal desde a ressurreição, já não lhe convinha esta obscura morada da Terra, mas antes a elevada e esplendorosa mansão dos céus.
E não foi só para tomar posse do trono de glória e poder, merecido a custo de sangue; mas também para diligenciar tudo o que concerne à nossa salvação.
Além disso, foi para provar que realmente que "seu reino não é deste mundo" (Jo 18, 36). Os reinos do mundo são terrenos e passageiros, apóiam-se e grandes cabedais e na força da carne. Ora, o reino de Cristo não era terrestre, como os judeus esperavam, mas espiritual e eterno. Colocando seu trono nos céus, demonstrou que as forças e as riquezas de seu reino eram de natureza espiritual.
Neste reino, os mais ricos e os mais providos com a abundância de todos os bens são aqueles que procuram com maior ardor as coisas de Deus. Santiago, com efeito declara que Deus escolheu os pobres deste mundo, para serem ricos na fé, e herdeiros do Reino que Deus prometeu aqueles que o amam" (Tiago 2, 5).
Pela Ascensão, Nosso Senhor queria também que, subindo ele aos céus, continuássemos a segui-lo com saudosos pensamentos. Com efeito, pela sua morte e ressurreição, deixou-nos um exemplo que nos mostra como se deve morrer e ressurgir espiritualmente. Pela sua Ascensão também nos ensina a educar a erguer-nos nossas mentes aos céus, enquanto vivemos na terra; a reconhecermos que, na terra somos hóspedes e peregrinos em demanda da pátria, concidadãos dos santos e membros das família de Deus (Efe 2, 19), pois como diz o mesmo Apóstolo: "Nosso viver é no céu" (Filip 3, 20).
A eficácia e a grandeza destes inefáveis benefícios que a bondade de Deus derramou sobre nós, desde muito as havia vaticinado o santo profeta Davi: "Subindo ao alto, arrebatou como presas os escravos, e distribuiu os dons aos homens" (Sal 67, 19). Neste sentido interpreta o Apóstolo a presente passagem (Efe 4, 8).
Efetivamente, ao cabo de dez dias, enviou ele o Espírito Santo, de cuja virtude e exuberância encheu a multidão de fiéis que ali estavam. Então cumpriu verdadeiramente aquela grandiosa promessa: "Para vós convém que eu me vá. Se eu não for, não virá a vós o Consolador; mas se eu for, eu vo-lo enviarei" (João 16, 7).
(Fonte: Catecismo da Igreja Católica - 1962 - Ed. Vozes)
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