sexta-feira, 11 de maio de 2007

Teologia Ascética e Mística: Da vida natural do homem


Trata-se de descrever o homem tal qual teria sido no estado de simples natureza, como o pintam os filósofos. Como a nossa vida sobrenatural se vem enxertar sobre a vida natural e a conserva, se bem que a aperfeiçoa, importa lembrar resumidamente o que sobre esta ensina a reta razão

O homem é um composto misterioso de corpo e alma, de matéria e espírito que se unem intimamente nele, para formarem uma única natureza e pessoa. É pois, digamo-lo assim, o ponto de junção, o traço de união entre o espíritos e os corpos, uma síntese das maravilhas da criação, um pequeno mundo que se resume todos os mundos, e manifesta a sabedoria divina que soube unir dois seres tão dissemelhantes.

É um mundo cheio de vida: segundo nota São Gregório Magno, distinguem-se três vidas a vegetativa, a animal e a intelectual: "Homo habet vivere cum plantis, sentire cum animantibus, intelligere cum angelis". Como a planta, o homem alimenta-se, cresce e reproduz-se; como animal, conhece os objetos sensíveis, tende para eles pelo apetite sensitivo com sua emoções e paixões, e move-se com movimento espontâneo; como o anjo, se bem que em grau inferior e de modo diverso, conhece intelectualmente o ser supra-sensível, a verdade, e com a vontade inclina-se livremente para o bem racional.

Essas três vidas não se sobrepõem, mas compenetram-se, coordenam-se e subordinam-se, para o mesmo fim, que é a perfeição do ser completo. Tratando-se, pois, do homem, as faculdades inferiores, vegetativas e sensitivas, devem ser submetidas à razão e à vontade.

A vida, pois, é uma luta: porquanto as nossas faculdades inferiores, lançam-se com ardor para o prazer, enquanto as faculdades superiores tendem para o bem honesto. Ora entre esses dois bens há muitas das vezes conflitos: o que nos agrada, o que nos é ou ao menos nos parece útil, nem sempre é moralmente bom. É necessário, pois, que a razão, para fazer reinar a ordem, combata as tendências contrárias e triunfe: é a luta do espírito contra a carne.


(Fonte: Compêndio de Teologia e Ascética e Mística - AD. Tanquerey - 1961)

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