sexta-feira, 4 de abril de 2008

Teologia Ascética e Mística: Das virtudes e dos dons ou das faculdades da ordem sobrenatural - Existência e natureza



A vida sobrenatural, inserida em nossa alma pela graça habitual, exige, para operar e se desenvolver, faculdades de ordem sobrenatural, que a liberdade divina nos outorga generosamente com o nome de virtude infusas e dons do Espírito Santo: "O homem justo, diz São Leão XIII, que vive da vida da graça e opera por meio das virtudes que nele desempenham o papel de faculdades, necessita igualmente dos sete dons do Espírito Santo. Convém, na verdade, que as nossas faculdades naturais que por si mesmas não podem produzir senão atos da mesma ordem, sejam aperfeiçoadas e divinizadas por hábitos infusos que as elevem e auxiliem a operar sobrenaturalmente. E, como a liberdade de Deus é grande, dá-nos duas espécies de hábitos: as virtudes que, sob a direção da prudência, nos permitem operar sobrenaturalmente com o concurso da graça atual, e os dons, que nos tornam tão dóceis a ação do Espírito Santo que, guiados por uma espécie de instinto divino, somos, por assim dizer, movidos e dirigidos por este divino Espírito. É mister advertir, porém, que estes dons, que nos são conferidos com as virtudes e a graça habitual, não se exercem de modo freqüente e intenso senão nas almas mortificadas, que por longa práticas das virtudes morais e teologais, adquiram essa maleabilidade sobrenatural que as tornam completamente dóceis as inspirações do Espírito Santo.

A diferença essencial entre as virtudes e os dons vem, pois, da maneira diferente de operar em nós: no exercício das virtudes, a graça deixa-nos ativos, sob o influxo da prudência; no uso dos dons, quando estes atingiram pleno desenvolvimento, exige de nós mais maleabilidade do que atividade, como exporemos mais de propósito, ao tratar da vida unitiva. Entretanto, uma comparação nos ajudará a compreender isto: quando a mãe ensina o filho a andar, umas vezes contenta-se de lhe guiar os passos, impedindo-o de cair, outras toma-o nos braços, para o ajudar a vencer um obstáculo ou lhe dar um pouco de descanso; no primeiro caso, é a graça cooperante das virtudes; no segundo, é a graça operante dos dons.

Mas daqui resulta que, normalmente, os atos feitos sob o influxo dos dons são mais perfeitos que os praticados somente sob a influência das virtudes, precisamente porque a ação do Espírito Santo no primeiro caso é mais ativa e fecunda.

(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Ed. Apostolado da Imprensa - 1961 - 6ª edição)

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