sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Teologia Ascética e Mística: A psicologia das tentações

A freqüência e violência das tentações variam do extremo: há almas que são amiudadas e violentamente tentadas; outras há que o são apenas raras vezes e sem sentirem profundamente abaladas. Muitas são as causas que explicam esta diversidade.


A). Em primeiro lugar, o temperamento e o carácter: há pessoas extremamente apaixonadas ao mesmo tempo fracas de vontade, freqüêntemente acometidas e perturbadas pelas tentações; outras, bem equilibradas e enérgicas, que não são tentadas senão raramente e conservam a serenidade no meio da tentação.


B). A educação original e outras diferenças: há almas educadas no amor e temor a Deus, no cumprimento habitual do dever austero, que não receberam quase senão bons exemplos; outras, pelo contrário, foram educadas no amor do prazer e no horror de qualquer sofrimento, e não viram quase senão exemplos de vida mundana e sensual. E evidente que as segundas serão mais violentadas pelas tentações.


C). É necessário ter em conta os desígnios da providência divina: há almas que Deus chama a um alto grau de santidade que preserva de toda a mácula com o mais desvelado carinho; outras que distina também a perfeição, mas que quer fazer passar por árduas provações, afim de as robustecer nas virtudes; outras, que enfim, Deus não chama a estado tão elevado e que serão mais freqüentes tentadas, se bem que nunca acima de suas forças.

Conforme a doutrina tradicional, exposta já por Santo Agostinho, há três fases na tentação: a sugestão, a deleitação e o consentimento.


A Sugestão consiste na proposição de algum mal: a imaginação ou o espírito representa-nos, mais ou menos vivamente, os encantos do fruto proibido; às vezes esta representação é sobremaneira sedutora, impõe-se como tenacidade e torna-se uma espécie de obsessão. Por mais que perigosa seja esta sugestão., não é pecado, contanto que se não haja provocado ou se nela não se consista livremente; não há falta senão quando a vontade lhe dá consentimento.


A sugestão junta-se a deleitação: instintivamente, sente-se inclinada a parte inferior da alma para o mal sugerido, experimentando um certo prazer. "Sucede muitas vezes, diz São Francisco de Sales, que a parte inferior se deleita na tentação sem o consentimento, antes contra a vontade da superior. É esta a guerra que o apóstolo São Paulo se refere quando diz que sua carne tem apetites contra o espírito". Esta deleitação da parte inferior, enquanto a vontade não consente, não é falta; mas é um perigo, porque a vontade se encontra assim solicitada a dar sua adesão. Propõe-se então a alternativa: vai a vontade consentir, sim ou não?


Se a vontade recusa o assentimento, se combate e repele a tentação, fica vitoriosa e faz um ato sobremaneira meritório. Se, pelo contrário, se compraz na deleitação, se nela se goza voluntariamente, se consente nela, está cometido o pecado interior.


Tudo depende, pois, do livre consentimento da vontade; e é por isso que, para maior clareza, vamos indicar os sinais claro por onde se pode reconhecer se houver consentimento e em que medida o houve.


Os sinais de consentimento, para melhor explicarmos este ponto importante, vejamos então, os sinais de não consentimento, de consentimento imperfeito e de pleno consentimento.


a) Pode-se assentar que não houve consentimento, se, a despeito da sugestão e do prazer instintivo que a acompanha, a alma sente descontentamento, desgosto de se ver assim tentada, se luta para não sucumbir, se na parte superior sente um vivo horror do mal proposto.


b) Pode-se considerar que o consentimento é imperfeito.

1. Quando se não repele a tentação tão prontamente como se dá pelo seu caráter perigoso; há nisto uma falta de imprudência que, sem ser grave, expõe ao perigo de consentir na tentação.

2. Quando se hesita um instante: desejar-se-ia provar um pouco prazer vedado, mas não se quereria oferender a Deus; em suma, após um momento de hesitação, repele-se a tentação; também aqui há pecado venial de imprudência.

3. Se não se rechaça a tentação senão a meias; resiste-se, mas com indolência, incompletamente; ora semi-resistência é semi consentimento: falta venial.


d)O consentimento é pleno e inteiro, quando a vontade, enfraquecida pelas primeiras concessões, se deixa arrastar a saborear voluntariamente o prazer mau, sem embargo dos protestos da consciência que reconhece o mal. Então, se a matéria, é grave, é mortal o pecado: pecado de pensamento ou de deleitação morosa, como dizem os teólogos. Se ao pensamento se ajunta o desejo consentido, mais grave ainda é a falta. Enfim, se do desejo se passa à execução, ou ao menos a procurar meios para por obra o mau projeto, é pecado de ação.



Nos diversos casos que acabamos de expor, há por vezes dúvidas que se elevam acerca do consentimento ou semi consentido dado. Deve-se então distinguir entre as consciências delicadas e as consciências relaxadas; no primeiro caso, julga-se que não houve consentimento, porque a pessoa de que se trata tem o hábito de não consentir, ao passo que no segundo se formará juízo inteiramente contrário.


(Fonte: Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Apostolado da Imprensa - 1961 -)

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